O Estado de S. Paulo
O uniforme da seleção sueca de futebol é igual ao do Brasil. Não é a única semelhança entre os dois países
Taylor Swift, Ariana Grande, Justin
Timberlake, Pink, Childish Gambino, Adele e Maroon 5. Esses artistas têm algo
em comum: todos eles devem parte de seu sucesso a produtores ou compositores
suecos. O episódio “Síndrome de Estocolmo”, da ótima série This is pop,
disponível no Netflix, mostra como a Suécia se tornou celeiro de hitmakers.
Criou-se uma cena inovadora e vibrante, de variedade inimaginável para quem
associava o país ao padrão chiclete do grupo Abba. Que virou – literalmente –
tema de museu em Estocolmo.
Os suecos também são líderes em outra
seara: a preocupação com o futuro do planeta. A primeira conferência do clima
foi realizada em 1972 em Estocolmo. Na época, a principal questão era a
poluição nas grandes cidades, e havia muitas divergências entre os países. Os
ricos queriam conter as emissões de gases. Os pobres achavam que, para se
desenvolver, precisavam poluir.
Passaram-se quase 50 anos. Ricos e pobres
sabem hoje que a mudança climática é questão vital para o nosso futuro.
Estocolmo passou da teoria à prática. A uma hora de caminhada do centro, em
meio a ilhas e pontes – que valeram à cidade o apelido de “Veneza do Norte” –
chega-se a dois bairros onde se ensaia um futuro sustentável. Ao sul, Hammarby
Sjostad tem um dos melhores sistemas de reciclagem do planeta – os resíduos são
encaminhados a usinas por via subterrânea, e o retorno se dá na forma de
aquecimento e eletricidade, seguindo os preceitos da “economia circular”.
Ao norte, Royal Seaport se destaca pela arquitetura: edifícios desenhados para poupar energia, painéis solares por todos os lados e uma antiga fábrica lindamente transformada em centro cultural. “O respeito ao meio ambiente faz parte da cultura do país, e une esquerda e direita, jovens e velhos”, diz o escritor sueco Henrik Jönsson, correspondente do jornal Daegens Nyheter no Rio de Janeiro. Ele é o personagem do minipodcast da semana – e fala também sobre a polêmica gestão da pandemia em seu país.
Nos parques de Estocolmo é comum ver
crianças de camiseta amarela. O uniforme da seleção sueca de futebol é igual ao
do Brasil. Não é a única semelhança entre os dois países. Nosso movimento
ambientalista também floresceu a partir de uma conferência do clima, a Rio-92.
À sua maneira, o Brasil é igualmente referência na área de sustentabilidade.
Aprovamos um Código Florestal admirado internacionalmente, e nosso sistema de
monitoramento de desmatamento é um dos melhores do mundo.
Os nórdicos têm uma palavra para definir o
que consideram o seu principal traço de caráter: “jantelagen”. Significa algo
como “fazer o que tem que ser feito, sem gabar-se disso”. Poucos sabem da cena
pop na Suécia, até porque eles não alardeiam: “Só queremos mostrar que somos
bons, e não falar sobre aquilo em que somos bons”, diz a compositora Laleh,
autora do sucesso Stone Cold, de Demi Lovato. Pura “jantelagen”.
Temos em comum com os suecos o uniforme de futebol, a vibração musical e a preocupação ambiental. Os suecos seguem firmes em seu planejamento de cidades sustentáveis. Enquanto isso, perdemos a mão em nosso objetivo de preservar florestas. Com modéstia ou sem modéstia – não é uma característica dos brasileiros – sabemos o que é necessário para voltar a ser referência em sustentabilidade. Falta fazer a coisa certa – e, principalmente, escolher governantes que ajudem em vez de atrapalhar.
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