Revista Veja
Quanto mais se afunda, mais Bolsonaro se debate — e mais se afunda
Jair Bolsonaro está ficando cercado: suas
diatribes surtem cada vez menos efeito, e todo dia surge uma nova má notícia. O
TSE cortou a fonte de recursos de seus propagandistas digitais, seu ministro da
Justiça está sob investigação, Roberto Jefferson está na cadeia, e fala-se até
na prisão do filho Carlos.
O desfile de tanques e o exercício da Marinha viraram motivos de chacota na internet. O voto impresso caiu. O cantor Sérgio Reis, que convocou para o golpe, foi desautorizado pelos aliados e é alvo de uma representação de 29 subprocuradores-gerais e de uma investigação pela Polícia Federal. O próprio Bolsonaro é investigado em sete inquéritos, sem falar da CPI, que arrolará mais meia dúzia de crimes.
Há inflação alta, perspectiva de queda no
crescimento e falta dinheiro para o necessário saco de bondades eleitoreiras —
Paulo Guedes recorre, sem grande esperança, a expedientes estapafúrdios, como
aumento de impostos, PEC do calote e até a venda de um tesouro cultural.
A popularidade cai, a rejeição cresce, a
vantagem de Lula aumenta, e não é só o eleitorado que repudia o presidente.
Entidades civis, empresários, economistas elaboram manifestos. Os senadores
estão irritados com os ataques ao Supremo, e Rodrigo Pacheco, que até ontem
fazia cara de paisagem, é agora um defensor da democracia e até critica,
indiretamente, o presidente. Ninguém tem pressa para avaliar a indicação de
André Mendonça para o STF.
“O presidente está ficando cercado, as
diatribes surtem cada vez menos efeito e todo dia há uma má notícia”
Nada menos do que 27 subprocuradores-gerais
— um terço do total — cobram que Augusto Aras aja contra os abusos do
presidente, mais da metade dos ministros do Supremo está irritada com a omissão
do PGR. Senadores, de quem Aras depende para ser reconduzido ou para chegar ao
STF, denunciaram o procurador-geral, pelo crime de omissão, ao Supremo.
Para as Forças Armadas, Bolsonaro é fonte
permanente de constrangimento e irritação. O capitão, que com frequência
destrata Mourão, proibiu a punição de Pazuello, humilhou o comandante do
Exército, usou os tanques para intimidar o Congresso e permitiu um esquema de
corrupção na Saúde que inclui uma dúzia de coronéis.
A reação do presidente à perda de apoio é
mais agressividade, o que afasta ainda mais os apoiadores, alimenta as ações do
Judiciário e torna mais difícil para seus aliados (ou cúmplices) defendê-lo.
Bolsonaro parece mergulhado em areia movediça: quanto mais se afunda, mais se
debate, e quanto mais se debate, mais se afunda.
Também o país está na areia movediça,
Bolsonaro nos impede de respirar. Fernando Collor e Dilma Rousseff caíram por
muito menos, mas o capitão conta com a omissão deliberada de Augusto Aras, o
apoio escancarado de Arthur Lira (e do Centrão) e a aparente sustentação dos
generais.
Aqueles que sustentam Bolsonaro, que
receberam e recebem dele inúmeras vantagens, precisam entender que o país não
aguenta mais catorze meses de um presidente que todo dia esgarça o tecido
institucional. É hora de ter espírito público, sair da frente e deixar a
institucionalidade seguir seu curso.
É hora de deixar Jair Bolsonaro ir embora.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752
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