Folha de S. Paulo
Quantos anos serão necessários para
desfazer os estragos deixados pela pior equipe econômica da história do país?
Um ministro da economia com superpoderes.
Demanda reprimida por anos de crise
econômica. Reformas, como a da Previdência,
encaminhadas no Congresso. Um mundo em expansão.
O cenário estava desenhado para uma forte
recuperação da economia brasileira quando o governo subiu ao poder. Mais de
dois anos e meio desde que quatro pastas foram agregadas em um ministério, qual
a avaliação que podemos fazer do comando de Paulo Guedes e seus secretários,
que supostamente subiram ao poder pela sua capacidade técnica?
Infelizmente, essa capacidade era ouro de tolos e não só o ministério foi incapaz de negociar politicamente qualquer reforma importante para o país, como errou em todos os momentos importantes dos últimos anos. O resultado é que desde então estamos presos no Dia da Marmota, com promessas de crescimento, redução de desemprego e inflação que se deterioram à medida que o ano avança. E isso independe da crise trazida pela Covid-19.
Este deveria ser um ano de forte
recuperação da economia, como o PIB mundial está em franca recuperação.
Entretanto, temos esse ano exatamente o mesmo cenário de 2019: semana a semana,
as expectativas para inflação aumentam e,
para o PIB de 2022, caem, resultado da incapacidade política e técnica da
equipe econômica.
O governo assumiu em 2019 com expectativas
de que o crescimento no ano fosse ser de 2,55% e a inflação fosse terminar em
4%. Mas o ano terminou com o PIB crescendo
somente 1,1%, e o IPCA, em
4,31%. A equipe econômica conseguiu a façanha de aumentar o número de
desempregados no país, no meio do que deveria ser um período de recuperação
econômica (em 2019, a taxa de desemprego terminou em 11,9%, contra 11,6% em
2018).
E as coisas não mudam em relação às
expectativas para o ano que vem.
Quando um governo é competente e o cenário
externo ajuda, é normal que as expectativas de crescimento para os anos
subsequentes melhorem. Todavia, mesmo antes da crise da Covid-19, esperava-se
que o PIB de 2022 fosse crescer 2,5%. E o governo conseguiu a façanha de jogar
o futuro no lixo. Hoje, de acordo com os indicadores do relatório Focus do
Banco Central, que resume as perspectivas de mercado, espera-se que a economia
vá crescer somente
2,04% em 2022, com inflação em franca escalada (o IPCA deve fechar o ano
acima de 7% e o IGP-M, 20%).
O governo está entregando estagnação,
desemprego e inflação. E tudo por incompetência técnica. A gestão das contas
públicas em 2019 foi um desastre. Em 2020, a equipe econômica lutou contra a
extensão da situação de emergência e prorrogação do auxílio emergencial (e
foi contra
o auxílio desde o início, com o Congresso enfiando goela abaixo do
ministério o valor de R$600).
Como não encaminhou nenhuma reforma decente
nos últimos meses, as contas públicas se deterioraram. E o que eles inventaram?
Uma PEC dos precatórios que simplesmente vai jogar
a lei do teto de gastos no lixo.
Ao invés de desenhar reformas, a equipe
econômica achou tempo para estimar um modelo epidemiológico, no qual concluíram
que não
haveria segunda onda no Brasil. Por causa da sua incompetência, morreram
centenas de milhares de brasileiros e, agora, o espectro do descontrole
inflacionário nos ronda.
A questão não é mais se ela vai deixar a
economia em frangalhos, mas quantos anos vai demorar para desfazer os estragos
deixados pela pior equipe econômica da história do país.
*Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.
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