O Globo
Mendonça apela a pastores para destravar indicação
ao STF
Após dois meses de espera, André Mendonça
resolveu apelar. Com a vaga no Supremo Tribunal Federal em risco, o dublê de
jurista e pastor pediu socorro a figurões evangélicos. Aposta no lobby
religioso para forçar o Senado a destravar sua indicação.
Na quarta-feira, Mendonça participou de um
encontro de chefes de igrejas com Jair Bolsonaro. Entrou no gabinete
presidencial com dois personagens notórios: Estevam Hernandes, da Renascer, e
Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
O primeiro já foi preso ao tentar entrar
nos Estados Unidos com dólares escondidos numa Bíblia. O segundo foi indiciado por lavagem de dinheiro na Operação Timóteo da
Polícia Federal. Hoje se divide entre o proselitismo religioso e a militância
bolsonarista na internet.
Três dias antes da reunião no Planalto, Mendonça foi a São Paulo para outra agenda de campanha. Visitou o templo da Assembleia de Deus no Brás e pediu a bênção ao bispo Samuel Ferreira, antigo conselheiro do ex-deputado Eduardo Cunha.
O aspirante a ministro “terrivelmente
evangélico” fez questão de divulgar fotos do culto. Numa delas, empunha um
microfone e aponta o dedo para os fiéis. Em outra, faz pose de oração com o
deputado Cezinha de Madureira, de olhos fechados e braços erguidos para o céu.
No púlpito, Mendonça se apresentou como
“servo” e “discípulo” dos bispos da família Ferreira. E contou ter proibido os
integrantes do clã de o chamarem de “excelência”. “Vocês é que são autoridades
sobre mim”, derramou-se.
Em mais um desafio à laicidade do Estado,
ele declarou sua “submissão” aos bispos da igreja. A palavra também poderia seu
usada para descrever a atuação do primeiro ministro do Supremo escolhido por
Bolsonaro.
Em menos de um ano na Corte, Kassio Nunes
já se revelou um juiz previsível. Suas decisões sempre coincidem com os
interesses do Planalto. Na quarta-feira, ele votou contra os povos indígenas no
julgamento do marco temporal. Alegou que novas demarcações de terra causariam
“conflito fundiário” e “grave risco à segurança jurídica”.
O advogado Eloy Terena, da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil, classificou o voto como “teratológico”. “Vi apenas
um ministro repetindo os velhos argumentos dos ruralistas. Pareceu-me um copia
e cola das petições dos fazendeiros”, resumiu.
Não foi o único serviço que Kassio prestou
na semana. Na quinta-feira, ele interrompeu o julgamento de ações que pedem a
derrubada dos decretos armamentistas de Bolsonaro. Três ministros já haviam
votado pela suspensão das medidas, que facilitaram a compra de armas e
dificultaram o rastreamento de munições.
A opinião de Kassio sobre o assunto é
conhecida. Ele tem certificado de atirador e frequenta estandes de tiro em
Brasília, a exemplo dos filhos do presidente. Seu pedido de vista foi uma
manobra para driblar a Corte e livrar o capitão da derrota anunciada.
O Senado já permitiu que Bolsonaro nomeasse
um ministro que usa a toga para agradá-lo. Agora tem a chance de barrar um
segundo que, além de bater continência ao capitão, promete se submeter aos
pastores que o apoiam.
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