Nem
a morte de 261 mil brasileiros é capaz de extrair alguma humanidade de Jair
Bolsonaro. No pior momento da pandemia, o capitão voltou a ostentar desprezo
pelo sofrimento alheio. “Chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até
quando?”, debochou ontem, em Goiás.
As
duas frases sintetizam a visão do presidente sobre a tragédia. Nas palavras
dele, os esforços para conter a doença não passam de “frescura”. Quem usa
máscara tem “medinho do vírus”. Quem respeita as regras de distanciamento é
“frouxo” e “covarde”.
Obcecado
por afirmar sua masculinidade, o capitão diz que é preciso enfrentar o vírus
“como homem, não como moleque”. “Tem que deixar de ser um país de maricas!”,
esbravejou, em outro comício contra o isolamento social.
Com
o termo “mimimi”, o presidente tenta desmerecer as críticas a seu comportamento
irresponsável. A gíria foi adotada pela militância bolsonarista para ironizar
minorias e grupos oprimidos. Quem protesta contra o racismo é “vitimista”. Quem
contesta a homofobia é “mimizento”.
Por essa lógica, também é “mimimi” reclamar de um governo que ignora a ciência, deixa pacientes sem oxigênio e sabota a negociação de vacinas. Ontem o capitão chamou de “idiota” quem reivindica a compra de imunizantes para todos. “Só se for na casa da tua mãe!”, acrescentou.
A
pergunta “Vão ficar chorando até quando?” expõe Bolsonaro em estado puro: um
político que despreza a vida e celebra a morte.
Em
28 anos no Congresso, ele se notabilizou por exaltar torturadores e dizer que a
ditadura “matou pouco”. Quando a Justiça ordenou buscas por ossadas de
desaparecidos no Araguaia, enfeitou o gabinete com um adesivo que dizia “Quem
procura osso é cachorro”. Agora, ele achincalha os parentes das vítimas da
Covid-19.
Bolsonaro
não vai mudar. Enquanto permanecer no cargo, continuará a atentar contra a
saúde pública e a desrespeitar as famílias enlutadas.
Hoje completa um mês o pedido de impeachment apresentado por médicos como Gonzalo Vecina e José Gomes Temporão. O documento lista dezenas de crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente na pandemia. Pressionar a Câmara a aceitá-lo é uma forma de transformar a indignação em ação.
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