Às vítimas: ‘para que pânico?’ A médicos: ‘Chega de frescura!’ A parentes: ‘Vão chorar até quando?’
O
presidente Jair Bolsonaro disse que não se
pode combater o vírus “de forma ignorante, burra, suicida”, mas, um ano e 260
mil mortes depois, não diz como deve ser, não dá nenhuma pista do seu “plano” nem anuncia quando irá de
Estado a Estado, para dar uma bronca em pacientes, parentes, médicos,
enfermeiras e funcionários de hospitais. “Para que pânico?” “Chega de frescura, de mimimi!” “Vão
chorar até quando?”
Poderia
começar pelo Paraná, demonstrando impaciência e pedindo paciência às 800
pessoas com covid-19 que estão à espera de
leitos de UTI ou da morte: “Para que pânico?” Depois, dar uma passadinha por
Santa Catarina, para reclamar com mães, pais, irmãos, maridos, mulheres e
filhos das dezenas de vítimas que morreram sem conseguir vaga na UTI: “Vão
chorar até quando?”
Em vez de pular de palanque em palanque, provocando ilusão e aglomeração, o presidente poderia dar uma esticada ao Rio Grande do Sul e à Bahia, que estão contratando contêineres refrigerados para acomodar corpos. Cara a cara, gritaria para médicos e enfermeiros enfrentarem o problema “de frente” e pararem com esse mimimi, só porque assistem, impotentes, exaustos, a mais e mais pessoas morrendo dia e noite. “Chega de frescura, de mimimi!”
Essa
gente não consegue entender que é só uma gripezinha e que está no finalzinho. E
daí? Todo mundo vai morrer mesmo. O que o presidente pode fazer, coitado? O STF
não deixa, os governadores só falam em isolamento e os idiotas querem vacina.
Ele não é coveiro. E tem uma leitoa pururuca deliciosa esperando. Tchau!
Com
recordes diários, sistemas de saúde e funerários à beira do colapso, os
governadores enfrentam tanto a pandemia quanto a resistência dos bolsonaristas
ao lockdown e às medidas restritivas, enquanto as vacinas não vêm. Bem
atrasado, o general da Saúde anuncia a Pfizer e a Janssen, mas a
guerra é contra o tempo: quanto mais a vacinação demora, mais o vírus se
espalha e gera novas variantes. O risco é se tornarem resistentes às vacinas já
disponíveis.
Não
adianta ter restrições em São Paulo e não no Rio, no Paraná, e não em Santa
Catarina, só no Ceará e Bahia, no Nordeste, e não no Amazonas, no Norte. E isso
vale para o mundo. Se vários países fizerem tudo certo e o Brasil continuar
fazendo tudo errado, pode se tornar o celeiro exportador de novas variantes e
uma ameaça planetária. Mimimi?
Se
autoridades brasileiras seguiram o “Deus” Donald Trump e acusaram a China
de ter intencionalmente criado o vírus e provocado a pandemia, que tal agora
Pequim pagar na mesma moeda e acusar o presidente do Brasil de deixar o vírus
correr solto, se multiplicar e sofrer mutações para destruir a
humanidade?
Na
pandemia, o Brasil vive uma tragédia. Na economia, acaba de sair da lista dos
dez países mais ricos do mundo, enquanto o presidente afugenta investimentos ao
intervir politicamente na Petrobrás e impor constantes humilhações ao ministro
Paulo Guedes e estimula tentativas de furar o teto de gastos.
Não
bastasse, Bolsonaro move mundos e fundos, GSI, AGU e as instâncias do
Judiciário para bloquear as investigações que atingem o primogênito Flávio
Bolsonaro, que se sente à vontade para comprar uma mansão de R$ 6 milhões em
plena capital da República, sem explicar de onde vem a grana. O único cuidado
foi buscar um cartoriozinho de Brazlândia, bem longe do centro, para esconder
as peraltices.
E não é que a mídia foi lá e descobriu tudo? Além de gerar pânico no País real pela pandemia, a mídia também gera pânico no mundo imaginário onde papai Jair dá de ombros para 260 mil mortos e só pensa em salvar um único pescoço: o do próprio filhote. O grito do senador Tasso Jereissati ecoa no País: “Tem de parar esse cara!”
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