sexta-feira, 5 de março de 2021

Vera Magalhães - Quanto custa Bolsonaro?

- O Globo

Demorou, mas a oposição parece começar a acertar o tom e o passo para combater o malefício que Jair Bolsonaro causa ao Brasil.

Recebi ontem, e postei no meu blog, um vídeo que abre com a pergunta que vai aí em cima, no título. Afinal, quanto este presidente custa ao país?

Como parece ser esta, a do bolso, a única variável capaz de sensibilizar uma parcela do eleitorado e da elite empresarial e financeira brasileira, o vídeo mostra, com dados e números, quanto a gestão temerária de Bolsonaro prejudica a atração de investimentos, a permanência de empresas no país, a imagem do Brasil junto a governos e organismos multilaterais internacionais e o enfrentamento à pandemia de Covid-19.

O tom é frio, didático, sem adjetivos. A cada diatribe bolsonaresca, é contraposto um dano claro, tangível em moeda, ao bolso dos que ainda, apesar de tudo, apoiam o presidente.

A descompostura pública não se atém ao chefe. Seus auxiliares também são expostos em todo o esplendor de sua incompetência e da constatação óbvia: nenhum deles seria ministro em qualquer governo minimamente normal.

Vale ver o vídeo, vale repassar para aqueles seus grupos de WhatsApp que, ainda hoje, 260 mil mortos depois, continuam dando eco a tanta maldade, tanta desinformação criminosa e tanto desprezo à vida cometidos pelo presidente, por seus auxiliares e puxa-sacos que usam microfones de empresas de comunicação antes sérias para cometer aleivosias da mesma natureza.

Não é só o vídeo do custo Bolsonaro que mostra que a chave da maioria dos brasileiros começou a virar, como, a muito custo, ocorreu na América capturada pelo trumpismo.

Os governadores, alvos de um dos mais recentes chiliques do capitão, responderam com uma nota elegante, concisa, também ela recheada de fatos, e deixando claro que, sim, o governo federal decidiu não comprar vacinas quando elas eram negociadas entre os fabricantes e os países, lá atrás, no início do segundo semestre de 2020 e que, por isso, agora, estamos no fim da fila para imunizar nossa população.

O que a cobrança dos governadores e o vídeo fazem é justamente aquilo que tira Bolsonaro do sério: acuá-lo, chamá-lo a sua responsabilidade, já que o presidente, além de tudo, não gosta de trabalhar e é, antes de tudo, medroso. Morre de medo de panelaço, se pela de pavor de impeachment e fica virado no Jiraya quando sua popularidade cai nas pesquisas.

Isso se deve ao fato de que, mesmo sendo intelectualmente prejudicado, ou justamente por isso, Bolsonaro sabe que chegou muito além de suas capacidades. Isso só se deu por uma série de circunstâncias de 2018 que, se espera, dificilmente se repetirão em 2022.

Mas podem, sim, se repetir. Esse é o sonho do capitão acuado. Por isso ele vocifera todos os dias e tenta transformar o enfrentamento da pandemia num Fla-Flu entre ele e os governadores, na tentativa de fazer uma cortina de fumaça para a compra de uma mansão de R$ 6 milhões por seu filho Flávio Bolsonaro, na cara da Justiça que investiga seu esquema de rachadinhas.

Bolsonaro sabe que sua única chance de se reeleger é repetir o segundo turno contra o PT.

Também nisso o vídeo cirúrgico e a reação dos governadores avançam: nos tiram dessa polarização burra, velha, segundo a qual é ou Bolsonaro ou o PT. Se for essa a lógica a prevalecer, o presidente vai se reeleger. Porque tem a máquina e porque as pesquisas mostram que o antipetismo não retrocedeu.

Se, por outro lado, se consolidar a constatação de que Bolsonaro é um risco à vida dos brasileiros e à economia do país, como de fato é, pode se construir uma alternativa viável para que superemos o pesadelo, que dependerá, também, da união de várias forças políticas, em uma ou poucas candidaturas com lastro social e projeto de país.

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