Nada disso, porém, importa para o presidente Bolsonaro. Seu comportamento é o que pode ser chamado de darwinismo social, segundo o qual os mais fortes sobrevivem
Com
mais 1.699 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas e 75.102 novos casos, o
Brasil está de luto fechado. Já são 260 mil famílias que choram pela perda de
entes queridos, mas o presidente Jair Bolsonaro conseguiu, ontem, bater o
recorde da falta de respeito e empatia com as vítimas da pandemia do novo
coronavírus, que já tem 10.793.732 de casos confirmados: “Chega de frescura, de
mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, disse, ao criticar medidas de
restrição de circulação da população em meio a recorde de mortes pela doença.
Bolsonaro
está irritado com governadores, que cobram mais empenho do governo na compra
das vacinas, liberação de verbas para mais leitos e o endosso do Ministério da
Saúde às recomendações dos seus sanitaristas. Os governadores, em documento
encaminhado ao governo, alegam que estão no “limite” e que a vacinação em massa
“é a alternativa que se afigura como a mais recomendável e, provavelmente, a
única capaz de deter a pandemia”.
“Neste momento, há novas, reais e importantes justificativas para que o Brasil obtenha, com celeridade, novas remessas de imunizantes, a principal delas é a chegada e a rápida disseminação, já no estágio de transmissão comunitária, da nova variante P1, que tem se revelado ainda mais letal, prejudicando os esforços para proteger a vida de nossas cidadãs e cidadãos, bem como de suas famílias”, afirmam no documento.
Os
governadores destacam que as preocupações das autoridades sanitárias de todo o
mundo estão voltadas para o Brasil, por causa das nossas dimensões continentais
e do grande número de casos, mas, sobretudo, devido à falta de controle sobre a
expansão da pandemia e suas novas variantes, que podem pôr em risco todo o
esforço feito para imunizar no mundo, se não houver igual empenho de vacinação
no Brasil. “O mundo acompanha com preocupação o rápido avanço do contágio por
essa variante no Brasil, o que torna o bloqueio da disseminação desse tipo de
vírus matéria de interesse de diversas nações, inclusive porque outras
variantes podem dela advir”, afirmam, com toda a razão.
O
encontro de um vírus (que não é considerado um ser vivo) com uma bactéria é
considerado pelos biólogos um dos fenômenos da criação. Esse encontro é que
permite a reprodução do vírus e também possibilita mutações genéticas. A
mutação E484K encontrada na variante brasileira P1 é uma das alterações já
identificada no novo coronavírus: o Sars-Cov-2. Essa mutação também está
presente em outras duas variantes que causam preocupação pelo mundo: a B.1.1.7,
identificada no Reino Unido, e B.1.351, na África do Sul. Suspeita-se de que
ela ajude a se tornar mais transmissível e enfraqueça os anticorpos humanos
contra o vírus.
Pesquisadores da Fiocruz identificaram a E484K no Ceará, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, em Alagoas e em Minas Gerais. No Paraná e no Ceará, o índice de prevalência da mutação superou os 70% nas amostras, o que é muito grave. Nada disso, porém, importa para o presidente Bolsonaro. Seu comportamento é o que pode ser chamado de darwinismo social, segundo o qual, os menos aptos deixariam de existir, porque não são capazes de se adaptar e acompanhar a linha evolutiva. Assim, entrariam em extinção, acompanhando o princípio de seleção natural.
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