Quem
diz isso é o médico, neurocientista e professor catedrático Miguel Nicolelis.
Sem 21 dias de lockdown nacional, o Brasil entrará numa “guerra explícita”, “um
prejuízo épico, incalculável, bíblico”. E será já neste março. A pneumologista
Margareth Dalcolmo receia que o mês seja lembrado como “o mais triste de nossas
vidas”. A saída é lockdown ao estilo europeu: “Duas semanas ao menos. Zero
circulação. Sem shopping, sem restaurante, sem BRT. A não ser serviços
essenciais. Para reduzir a transmissão e desafogar hospitais, enquanto se
produzem mais vacinas”.
Parece radical. Mas o Brasil é um dos poucos que jamais recorreram ao lockdown. Só jeitinho, embromação, apelo à consciência cívica. Países civilizados sabiam que não bastava pedir empatia a uma população instruída. Fecharam. A única forma de salvar milhares de vidas era o lockdown temporário, com auxílio emergencial aos mais pobres para ficar em casa. Toque de recolher, agora, é uma medida cosmética, porque o vírus circula muito mais durante o dia. O BRT lotado é um viveiro de Covid.
No
desespero, enfermos são transferidos para outras cidades em busca de ar. Jovens
caem doentes. As novas variantes do vírus são mais contagiosas e mais letais.
Os anticorpos de alguém que já teve Covid são nove vezes menos eficientes para
combater a nova variante amazônica. Governadores choram diante dos frigoríficos
da morte. Não adianta ter mais leitos apenas. Não tem mais médico nem
enfermeiro.
Em
julho, Nicolelis previu 200 mil mortos até o fim do ano, se não fizéssemos
testagem e isolamento social. Alarmista? Atingimos essa marca na primeira semana
de 2021. Nicolelis deixa muito claras as opções para o Brasil. Lockdown.
Lockdown. Lockdown. E, claro, vacinação em massa. No ritmo atual, ditado pela
incompetência política, diplomática e logística do governo, só em dois anos e
meio todos os adultos estariam imunizados.
Em
fevereiro, capitais como o Rio pararam de vacinar. Por falta de imunizante.
Foram sete meses de conversa de Pazuello com a Pfizer. Agora, o ministro se
confunde com datas e até de estado. A história das negociações de vacinas no governo
Bolsonaro será enquadrada um dia como crime de guerra. Fomos vítimas de
barganhas de preço, atritos diplomáticos e burocracias.
Nicolelis
disse à edição brasileira do El País: “John Barry, o maior historiador
norte-americano de pandemias, escreveu que, mesmo com a ciência moderna, o que
decide o destino de uma sociedade na pandemia é a decisão política, a opção
política dos líderes de defender a população. Por isso você é eleito, para
liderar mesmo nos momentos em que a coisa correta a ser feita é impopular”.
Temos
um simulacro de presidente que despreza máscaras e vacinas. Derrama palavrões,
cloroquina e armas. Um líder covarde que culpa governadores, prefeitos e a
mídia. “Criaram pânico, né? O problema está aí, lamentamos”. Diante dos atuais
260 mil mortos, mais uma ofensa hoje às famílias que perderam : “Chega de
frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?” Até que o senhor seja
deposto.
O
Congresso, cúmplice, festejava sem máscara há dias e agora encena um minuto de
silêncio. O Supremo age por espasmos. E por isso a população jamais entendeu a
gravidade da pandemia. Só os cientistas alertam, mas são persona non grata no
governo. O alerta da Fiocruz esta semana é dramático. Não há mais tempo.
Mas
o Brasil tem estrutura para imunizar 1 milhão de pessoas por dia. Usando
drive-thrus, escolas, ginásios, postos. Apelando para as Forças Armadas. Vejo
jovens militares de farda camuflada vacinando civis nos Estados Unidos.
Entendem de guerra. Essa é uma guerra biológica. Não sejam, aqui, soldados de
Bolsonaro nessa matança.
Engajem-se na vacinação. Se o mundo nos ajudar mandando vacinas, poderemos imunizar 2 milhões por dia. A palavra de 2021 é “colapso”. Colapso da vida e de uma nação. Se Bolsonaro temia um Brasil vermelho, agora o mapa está ficando roxo. Roxo de vergonha e luto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário