Foi pior do que se esperava. O PIB parou no primeiro trimestre de 2012. A amargura da crise internacional abriu seu sorriso de dentes de chumbo, deixando todos resignados e mudos, no compasso da desilusão. E agora, Paulinho da Viola?
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias e os gastos do governo quase não conseguiram compensar a queda do investimento e a estagnação das exportações. Mesmo com a desaceleração das importações, a parada súbita das exportações levou a uma contribuição negativa do setor externo para o crescimento brasileiro. Do lado da oferta, a quebra de safra de importantes produtos agrícolas, como a soja e o arroz, se somou às agruras da indústria. A lava de más notícias cobriu tudo.
O que esperar do futuro, diante deste passado? O governo introduziu várias medidas para estimular o consumo, em função do julgamento de que a crise internacional poderia ter reflexos fortes e indesejados sobre a economia brasileira. A divulgação do PIB mostrou que estes efeitos já estão presentes. A queda da taxa de investimento, para 18,7% do PIB comparada aos 19,5% alcançados no primeiro trimestre do ano passado, revela que a crise amarga que não acaba gera muita melancolia e paralisia no setor privado. Diante das incertezas externas, que devem perdurar, o governo dificilmente será capaz de destravar o investimento este ano. Sobra, portanto, apenas o consumo. Será ele a fonte de água pura que aliviará a amargura?
Muitos acreditam que não. Porém, com a força do mercado de trabalho, com o impulso do aumento da renda, que, segundo o IBGE, cresceu 6,5% no primeiro trimestre, o excesso de pessimismo parece exagerado. Ainda que as famílias brasileiras estejam endividadas. Afinal, os juros estão em queda. Além disso, um componente importante dos estímulos recentes ao consumo são as medidas para facilitar a renegociação e o refinanciamento das obrigações financeiras contraídas, diminuindo o peso das dívidas nos balanços das famílias.
Mas o estímulo ao consumo é um paliativo, uma dose de água com açúcar, não um potente antidepressivo. Para acabar de vez com a melancolia do crescimento brasileiro, para criar as condições para que uma expansão vigorosa se sustente, será preciso o auxílio do investimento. Sem ele, as altas taxas de crescimento de outrora terão sido apenas um rio que passou em nossas vidas. Um rio que desembocou no mar da crise internacional.
Monica Baumgarten de Bolle é economista, professora da PUC-Rio e diretora do IEPE/Casa das Garças
FONTE: O GLOBO, 2/6/2012
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