Analistas dizem que ex-presidente é o capital político de Dilma
BRASÍLIA - Além das polêmicas da semana passada, com o ministro Gilmar Mendes, Lula ficou em evidência por ter partido dele o trabalho pela criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, (CPMI) que investiga o esquema de Carlinhos Cachoeira. E não esconde que a controla. Seu alvo seria o Judiciário, por conta julgamento do mensalão, e a revista “Veja”, por divulgação de alguns dos escândalos de corrupção do seu governo.
O PMDB ficou fora até o último minuto para caracterizar que a CPI não era uma iniciativa sua. E assim, ficar bem junto ao Planalto, que, como se vê agora, pode sofrer danos com a investigação da Delta em todos os estados. Há rumores de que integrantes de partidos da base governista — PMDB, PP, PR, PSC —, insatisfeitos com a perda de espaço na Esplanada, podem pedir a convocação da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para explicar na CPI os contratos da Delta no PAC.
— Não custa repetir. Quem vai ganhar com a CPI do Cachoeira é, mais uma vez, o “bom e velho” PMDB — externou ontem o senador Delcídio Amaral, um dos poucos no PT que tem explicitado preocupação com os rumos da investigação, desde o inicio.
Também é atribuído a Lula o suposto aval que o governo teria dado à iniciativa da holding J& F de comprar a Delta, negócio que acabou não dando certo. Dilma se irritou com a versão de que a teria avalizado.
Na tentativa de cumprir a promessa feita antes de deixar a Presidência — a de iniciar uma cruzada para “desmascarar a farsa do mensalão” — , aliados admitem que Lula perdeu a mão e vem protagonizando uma confusão atrás da outra. Reconhecem que as investidas contra o Supremo e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, podem ter efeito desastroso, provocando o espírito de corpo no Judiciário contra os mensaleiros.
Com saia-justa ou não, cientistas políticos dizem que Dilma manterá a sintonia com Lula:
— Além da relação fraterna, Dilma também sabe que, se tudo der errado, poderá contar com Lula. Numa relação de custo benefício, vale ter o capital político do ex-presidente. Se a popularidade dela cair, ou se for preciso uma articulação com o Congresso, quem é que vai descascar o abacaxi? Ela não tem o PT. O grupo político dela é o Lula — diz o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília , Leonardo Barreto.
Professora de Ciência Política da PUC-Rio, Maria Celina D'Araujo, diz que Lula, por lealdade a Dilma, precisaria aprender a liturgia de ex-presidente.
— Não tem como surgir um ruído na conversa entre ambos. Ela administra as crises de forma amigável porque sabe que é devedora do cargo. Mas o Lula deveria ter mais civilidade. Ele faz questão de manter o protagonismo político. E desqualifica a própria Dilma com essas atitudes — diz Maria Celina.
FONTE: O GLOBO
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