O ano começou com otimismo moderado, depois o cenário mudou, com a crise na
zona do euro
Amanhã entraremos no último mês do ano. Como cronista das coisas da
economia, sinto ser minha tarefa procurar resumir, ao leitor da Folha, as
principais marcas deste período no Brasil e no mundo. É o que procuro fazer
neste meu primeiro relato.
Foi um ano muito difícil para a economia mundial. Ele iniciou-se sob o signo
de um otimismo moderado. Nos primeiros três meses do ano, o índice S&P da
Bolsa de Nova York valorizou-se em mais de 10%. No mesmo período, o Ibovespa
avançou 19,3%, chegando a 69 mil pontos. Para o Brasil, esperava-se um
crescimento de 3,5%.
Entretanto, no fim de março, a crise das dívidas na Europa se aprofunda a
partir do vazio político criado pela eleição na Grécia. A possibilidade do
colapso da moeda única europeia -e a crise de confiança que se seguiria- criou
um verdadeiro pânico nos mercados. Com isso, as expectativas de recuperação da
economia americana tomaram um tombo e reforçaram um quadro recessivo que já
durava mais de quatro anos no mundo desenvolvido.
Nesse cenário, o crescimento no mundo emergente enfraqueceu-se, via queda de
suas exportações, apesar de não sofrerem dos males financeiros que atingiam o
mundo rico e terem, na demanda interna, a grande força da sua economia.
A China, afetada pela queda vertiginosa de suas exportações para o chamado
G7, viu sua taxa de crescimento ficar abaixo dos 7% ao ano. Dentro desse
ambiente de pessimismo -quase histérico-, muitos analistas passaram a prever o
colapso do modelo chinês de crescimento. Como consequência, as economias
emergentes que dependiam dos preços elevados dos produtos primários para
crescer seriam engolfadas também pela depressão econômica.
No Brasil, as previsões para o ano fechado começaram a ser revistas para
baixo. Relatório Focus do Banco Central do início de janeiro mostrava que a
média das expectativas de crescimento da indústria, para o ano fechado, era de
3,40% ao ano. Já no mesmo relatório Focus de maio os números haviam mudado de
forma importante, com o crescimento industrial sendo revisado para apenas 1,6%
no ano.
A taxa Selic para o ano ainda se mantinha no nível de 9,5%, pois o Banco
Central ainda não havia se posicionado para enfrentar uma crise econômica maior
e mais ampla no mundo desenvolvido.
Ao longo dos meses seguintes, o ambiente internacional continuou a refletir
um pessimismo crescente, principalmente porque os principais governos europeus
continuavam sem conseguir montar uma estratégia coerente para enfrentar a crise
de confiança em sua moeda. Com isso, as decisões de investimentos das empresas
privadas passaram a ser adiadas, reforçando a fraqueza de várias economias.
No caso brasileiro, no período correspondente aos primeiros três meses do
ano, essa queda dos investimentos privados chegou a mais de 8% ao ano. No
segundo trimestre, esse movimento de se manteve, embora a uma taxa menor.
O resultado foi uma desaceleração do crescimento, com as estimativas mensais
do PIB realizadas pelo BC chegando a apenas 1,2% para o ano como um todo ao
longo dos meses de maio a junho.
Em fins de junho, finalmente o mercado financeiro acordou para esse fato e o
Focus trazia o número de 2,05% para o crescimento do PIB em 2012 e apenas 0,4%
para a produção industrial. Hoje, os economistas da Quest projetam uma queda de
2% para a produção industrial e um crescimento do PIB de apenas 1,4%. Uma bela
mudança em relação ao início do ano.
O mesmo fenômeno aconteceu na China. No primeiro trimestre de 2012, pela
primeira vez em muito tempo a taxa de investimentos fixos em 12 meses ficou
negativa.
No caso dos EUA, o clima de pessimismo que se construiu a partir da Europa
acabou por reduzir ainda mais o crescimento da economia, apesar da recuperação
do mercado imobiliário. A resposta do Federal Reserve a essa queda de atividade
veio por meio de uma nova rodada de injeções maciças de moeda na economia via
recompra de títulos federais em circulação.
Foi nesse clima de fim do mundo que chegamos ao mês de setembro, quando uma
decisão do BCE mudou o quadro econômico.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 69, engenheiro e economista, é
economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das
Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário