E-mails revelam que
Rosemary tirou proveito da proximidade com ex-presidente
A ex-chefe de gabinete
da Presidência em SP Rosemary Noronha usou a proximidade com o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para conseguir nomear os irmãos Paulo e Rubens Vieira
para agências reguladoras.
E-mails apreendidos
pela PF na operação Porto Seguro sugerem que, dessa mesma forma, ela obteve
cargo para a filha na Anac (agência de aviação civil).
Rosemary foi exonerada;
os irmãos Vieira, afastados.
Relatório da polícia
mostra também que Rosemary obteve diploma falso de bacharel em administração
para que o ex-marido entrasse no conselho da Brasilprev, seguradora controlada
pelo Banco do Brasil.
"Não cometi
tráfico de influência nem qualquer ato de corrupção", disse, em nota, a
ex-assessora da Presidência.
Ex-assessora usou
Lula para conseguir cargos para aliados
E-mails mostram como ela articulou indicação de Rubens Vieira para Anac e de
Paulo Vieira para a ANA
Advogado de Rose afirma que nomeação só aconteceu muito tempo depois que o
pedido foi formulado
SÃO PAULO - Rosemary Noronha usou a proximidade com o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva para nomear os irmãos Paulo e Rubens Vieira para agências
reguladoras e conseguir um cargo para a filha Mirelle, sugerem e-mails
apreendidos pela Polícia Federal na operação Porto Seguro.
O lote de e-mails está nos anexos do inquérito que apurou corrupção e
tráfico de influência no governo federal.
Desde a semana passada, após a operação, Paulo Vieira, apontado pela PF como
chefe da organização, e Rubens foram afastados dos cargos. Rose foi exonerada
da chefia de gabinete da Presidência em São Paulo.
As articulações entre o trio para obter os cargos começam em janeiro de
2009, quando o trio troca mensagens sobre a nomeação de Rubens na Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil).
Em outro e-mail, Paulo diz a Rubens que Rose "acha" interessante
que ele participe de um evento com o "PR", como é tratado Lula, que
aconteceria na semana seguinte.
Rubens então encaminha currículo por e-mail para Rose e diz que o
"argumento" que ela pode levar ao "presidente" é que ele
poderia também atuar como corregedor da agência de aviação. Para aproximar
Rubens de Lula, Rose pede a ele que confirme a presença no evento em São Paulo
para assim conseguir incluí-lo na lista da "sala VIP".
Mais adiante, em 17 de março, Rose volta a citar o "PR" e fala da
possibilidade de Rubens cumprimentar Lula. "Aí eu ataco", afirma a
ex-assessora de Dilma Rousseff. Ele só é indicado ao cargo na Anac em maio de
2010.
No mesmo dia de março, Rose diz a Rubens que o assunto já estava encaminhado
com Lula. "Sim, o PR falou comigo hoje e disse que na terça-feira, quando
voltar dos USA resolve tudo do seu caso", escreve Rose. Depois, cita a
preocupação com a situação da filha Mirelle. "Disse a ele [Lula] que a
Mirelle precisa trabalhar logo."
Rubens e Rose continuam citando Lula em maio, quando ela diz ao amigo que
"PR não pode impor" seu nome ao então ministro Nelson Jobim (Defesa)
porque os cargos na Anac estavam reservados para outras pessoas.
As conversas para que Paulo chegue à diretor da ANA (Agência Nacional de
Águas) se iniciam pouco depois, em março de 2009, quando ele mesmo encaminha
seu currículo para Rose.
A ex-assessora ainda trata das nomeações, agora de Mirelle, quando participa
de viagem com Lula a Moçambique. Como Rubens já estava na Anac, poderia
contratar a filha dela, o que ocorreu.
Usando seu e-mail, Rose diz: "Peço a gentileza de só nomeá-la [Mirelle]
depois que eu confirmar com o PR. Estou em Maputo e embarco para Seul [Coreia
do Sul] na segunda-feira com ele. Aí, após conversar, te aviso."
O advogado de Rose, ao comentar reportagem de mesmo teor ontem no
"Jornal Nacional", disse que foi ignorada "completamente a
relação entre o ato e o fato, e o poder de uma pessoa que só tem seu pedido
atendido um ano e meio depois. É como sofrer um empurrão e somente cair um ano
e meio mais tarde".
(MCC, JEC e PG)
Fonte: Folha de S. Paulo
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