Em evento partidário, ex-presidente ataca petistas e diz que relações
"confusas" levam a corrupção no governo
Para tucano, mistura de interesse "de família" com governo é
"cupim da democracia"; Lula e PT não comentam
Daniela Lima
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acusou ontem o PT de
confundir interesses públicos e privados e afirmou que seu sucessor, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se esquiva de dar explicações sobre
"as relações confusas que foram estabelecidas em seu governo".
O ex-presidente falou sobre o assunto ao discursar num evento organizado
pelo diretório do PSDB de São Paulo, em que fez palestra para prefeitos eleitos
por seu partido nas eleições deste ano.
"Uma coisa é o governo, a coisa pública, outra coisa é a família. A
confusão entre seu interesse de família ou seu interesse pessoal com o
interesse público leva à corrupção e é o cupim da democracia."
Ele fez várias críticas ao PT durante o discurso, que durou quase 30
minutos. "Temos que descupinizar essa confusão que está havendo entre o
interesse público e o interesse privado", afirmou.
Sua fala foi interpretada pelos tucanos como uma referência às revelações
feitas pel Operação Porto Seguro, que indiciou por suspeita de corrupção e
tráfico de influência a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo,
Rosemary Noronha, figura muito próxima de Lula e do ex-ministro José Dirceu.
Rose, como ela é chamada, conheceu Lula nos anos 1990, trabalhando com o
então presidente do PT, José Dirceu, a quem assessorou por 12 anos.
Com a eleição de Lula, em 2003 ela foi nomeada assessora especial do
gabinete regional da Presidência. Em 2005, se tornou chefe da unidade. De lá
até 2010, fez 32 viagens com o ex-presidente.
Ela foi mantida no cargo em 2011, a pedido de Lula, pela presidente Dilma
Rousseff. Só deixou o cargo no sábado passado, quando foi exonerada após a
operação da Polícia Federal ser deflagrada.
Durante a gestão do ex-presidente Lula, Rose exerceu grande influência,
chegando a indicar apadrinhados para cargos de direção no governo -dois deles,
os irmãos Paulo e Rubens Vieira, foram presos pela polícia.
"O presidente Lula, ainda ontem, em vez de explicar as relações
confusas que foram estabelecidas no seu governo e que deram em corrupção, foi
se dar ao luxo de dizer que tirou não sei quantos milhões da pobreza",
disse FHC durante o evento dos tucanos. "Tirou porque mudamos o Brasil. A
primeira grande redução de pobreza nesse período foi com o Plano Real."
Após a palestra, questionado sobre o discurso, FHC afirmou que "não
tinha em mente" a Operação Porto Seguro quando fez as críticas ao PT.
"Isso é norma geral", disse.
"Não gosto de entrar em detalhes. Não sei o que está acontecendo, não
sou da investigação. Isso é geral. Não dá certo. O maior problema da nossa
cultura política é o clientelismo e o patrimonialismo, a confusão do público
com o privado", afirmou.
Ainda durante o discurso, o ex-presidente citou o julgamento do mensalão e
disse que o fato mais importante do caso é que "pessoas poderosas foram
tratadas como cidadão comum". Procurados, o PT e Instituto Lula não
comentaram as declarações.
Fonte: Folha de S. Paulo
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