"Uma coisa é o governo, outra coisa é a família, a confusão leva à
corrupção, um cupim da democracia", diz ex-presidente
Gustavo Uribe
SÃO PAULO - No momento em que a ex-secretária do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva é investigada por tráfico de influências, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso criticou seu sucessor no Palácio do Planalto e acusou
o PT de confundir o público com o privado.
Em palestra realizada na capital paulista, FH avaliou que o erro do PT foi
imaginar que, para mudar o país, era necessário "ocupar o Estado".
- A confusão entre o público e o privado, nós não podemos aceitar. Esse é
pilar fundamental da crença do PSDB. Uma coisa é o governo, outra coisa é a
família. A confusão entre o interesse de família e o interesse público leva à
corrupção, um cupim da democracia - criticou ele.
Perguntado se estava se referindo à Operação Porto Seguro, respondeu
negativamente:
- Não, é geral. Não gosto de entrar em detalhes e não sou da investigação,
mas é geral, não dá certo. O maior problema do Brasil, tradicionalmente na
nossa cultura política, é o clientelismo e o patrimonialismo, confusão do
público com o privado. Isso vem de sempre, desde o império, a colônia, mas tem
de acabar.
A ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary
Noronha, que acompanhou Lula em várias viagens oficiais, é apontada pela PF
como integrante de um esquema que levava empresas a obterem vantagens em órgãos
federais. Rosemary também usou sua influência para obter cargos em empresas
públicas para sua filha e até para o ex-marido.
- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda ontem, em vez de explicar
as relações confusas que foram estabelecidas em seu governo e que deram em
corrupção, citou de novo que tirou milhões da pobreza. Tirou, porque nós (do
PSDB) mudamos o Brasil - afirmou o dirigente tucano.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) não vê problemas no fato de
Rosemary ter acompanhado Lula em viagens oficiais:
- É natural, ela era chefe de gabinete, secretária, trabalhava com o
presidente Lula. Eu mesmo tenho uma secretária que trabalha comigo há 20 anos.
Quando tem que viajar ou fazer alguma atividade que seja de interesse da
atividade ou do mandato, ela faz.
Maia considerou estranho Fernando Henrique ter se referido a conflito de
interesses entre o público e o familiar:
- É uma declaração, se é que ele a fez mesmo, absurda e despropositada. O
que está se trabalhando é a relação de pessoas que tinham vínculo com o poder
público e se utilizaram desse vínculo com ações que não são do interesse
público. Não se trata de falar de relações pessoais e familiares, não entendi
essas declarações do presidente Fernando Henrique.
Fonte: O Globo
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