Dos 40 inicialmente denunciados pela Procuradoria-Geral da República
restaram 37 réus, 25 condenados, 13 em regime fechado.
Em princípio esse resultado oferece à sociedade uma resposta além da esperada
em termos de rigor no trato de ilícitos ocorridos nos altos escalões da
República.
Se inovações houve por parte do Supremo Tribunal Federal, uma das mais
importantes foi o entendimento de que quanto mais alto o coqueiro maior pode
ser o tombo.
Não se trata de condenar o cargo, mas de levar em conta as agravantes
decorrentes do poder de mando. Desde a responsabilidade final sobre os atos até
a disposição de impor critérios rígidos de conduta que, se ausentes, deixam
prosperar a permissividade.
Prevaleceu no STF percepção contrária à regra até então vigente na cultura
do privilégio e da aceitação do lema de que detentores de mandatos, de
influentes cargos e posições políticas de prestígio não são pessoas comuns,
devendo a elas ser conferido tratamento especial.
Pela posição que ocupam ou mesmo pela "trajetória de luta", quando
pegas transitando à margem da lei, só seriam punidas mediante o impossível: a
apresentação do recibo do crime.
Ao (quase) fim e ao cabo de quatro meses de julgamento do processo do mensalão
o Supremo disse que não é bem assim. Ou pelo menos nesse caso não foi.
Será daqui em diante? É uma pergunta a ser respondida mais adiante. Por
enquanto o que se tem de certo é um aumento no grau de confiança no Judiciário.
Um passo e tanto nesses tempos de supremacia majestática do Executivo e de
descrédito crescente no Legislativo.
Impõe-se agora a seguinte questão: isso representa o início de um processo
ou será apenas um momento fugaz, cujo efeito se dilui ao longo do tempo sem
produzir nenhum avanço?
O Brasil já viveu outros episódios em que a euforia se confundiu com a
esperança. Campanha das Diretas-Já, fim do regime militar, Assembleia Nacional
Constituinte, impeachment de Fernando Collor, CPI do Orçamento e tantos outros
momentos.
Isoladamente, nenhum deles virou o País de cabeça para baixo (ou para cima),
mas, juntos, um ativo que se expressa no casamento entre a opinião do público e
a posição da Corte guardiã da legalidade.
Bom cabrito. Roberto Jefferson fez a linha sóbria diante da condenação à
prisão em regime inicialmente semiaberto. Não se queixou, não se explicou nem
se desculpou, citando Disraeli ("nunca se queixe, nunca de explique, nunca
se desculpe") ao se manifestar sobre o inevitável.
Realizou o prejuízo. Sempre soube dos riscos. Quando fez a denúncia do
mensalão avisou logo: "Sublimei o mandato".
O PT berrou na tentativa de salvar a reputação do coletivo. Jefferson, em
matéria de partido fez a sua parte: não disse para quem repassou o dinheiro
recebido do valerioduto, evitando arrastar o PTB para o processo.
Sobre a pena de sete anos, existe a chance de ser transformada em prisão
domiciliar na Vara de Execuções Penais, devido ao debilitado estado de saúde do
condenado.
Tangente. A estratégia da tropa avançada do Palácio do Planalto no Congresso
em relação ao episódio Rosemary Noronha é tentar circunscrever os fatos ao
campo da "vida pessoal" do ex-presidente Lula.
Mais ou menos como aconteceu com o então ministro da Fazenda Antonio Palocci
em relação à casa de lobby frequentada por ele em Brasília. Até que apareceu
Francenildo Costa e surgiu a (má) ideia de quebrar o sigilo bancário do
caseiro.
Peixe. Calado, Lula exerce o sagrado direito de não dizer nada que amanhã ou
depois possa se voltar contra ele.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário