Denise Rothenburg – Correio Braziliense
A perspectiva de segundo turno na sucessão presidencial e a rejeição da presidente Dilma Rousseff com o eleitorado terminaram por levar o PT a partir para uma estratégia justamente oposta ao que foi feito em 2010. Enquanto lá atrás a ordem foi vender a imagem de Dilma como o melhor produto do mercado, o PT agora partirá para dizer que a reeleição representa a certeza da manutenção de um projeto que engloba todos os programas em curso. Ou seja, os programas vão para um primeiro plano, assumindo assim um papel principal, enquanto Dilma Rousseff fica como coadjuvante dentro da sua própria campanha.
O martelo ainda não foi batido, mas, dentro do PT, cresce a cada dia a vontade de seguir por esse caminho. Assim, não estaria em discussão se a presidente é mal-humorada ou sobre o seu estilo de decidir. Diante de números do governo, dizem os petistas, Dilma não precisará estar o tempo todo na rua, fazendo campanha ou se expondo a vaias nos grandes centros. A ideia é restringir um pouco a movimentação da candidata e priorizar a participação em eventos fechados. O fato de Dilma ser presidente da República no exercício do mandato ajuda nessa estratégia de não deixá-la tão exposta.
O lançamento oficial desse discurso como peça de campanha será no próximo dia 31, em São Paulo, num encontro promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que é apontado como o primeiro grande compromisso da corrida pela reeleição. Até lá, a presidente se concentrará em ações de governo, algumas, entretanto, com forte apelo eleitoral. Hoje, ela recebe os integrantes do Bom Senso Futebol Clube, uma organização que pretende reformular o futebol brasileiro. É o segundo encontro de Dilma com esse grupo em menos de três meses. Eles estiveram no Planalto no final de maio, antes do início da Copa do Mundo da Fifa.
Militantes
Enquanto Dilma se recolhe, os petistas divergem nos bastidores e fora dele sobre a proposta de colocar o discurso da manutenção do projeto como o recurso capaz de garantir a vitória, uma vez que as pesquisas indicam o desejo de mudança. "Além de mostrar o legado, temos que ter a capacidade política de mostrar o que pretendemos fazer com o país. Nossos adversários agora são vivos e defendem os nossos projetos, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida. Temos que ter clareza de mostrar que o caminho mais seguro é com quem já está mudando o país", diz o deputado José Guimarães (PT-CE), que pretende ainda usar os programas sociais como formadores de novos militantes da campanha pela reeleição. "Eleição é menos intelectual e mais rua, temos que formar comitês dessas conquistas, do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida, do Pronatec, em todo o canto", diz.
Quanto às pesquisas que apresentam a candidata numa situação de empate técnico com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) num cenário de segundo turno, Guimarães acredita que, nesse momento, essas consultas não são definidoras do quadro eleitoral. Ele aposta no maior tempo de tevê de Dilma como um fator preponderante para melhorar a performance dela com o eleitor. "A campanha mal começou, por isso, não dá para tomar essas pesquisas como absolutas. A rua é fundamental, mas o palanque eletrônico é definidor. Prefiro acreditar na paciência e seguir com calma. Ideias mirabolantes, de tirar isso de cena, botar aquilo, não levam a nada. Precisamos nos concentrar agora em como transitar entre o legado e o desejo de mudança. Não é preciso ser marqueteiro para perceber que o nível de cobrança na campanha será alto", afirma.
Missa em Juazeiro
O candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) afirmou, ontem, que pretende tornar o Bolsa Família um "programa de Estado", em Juazeiro do Norte (CE), ao participar de missa de celebração de morte dos 80 anos do Padre Cícero. O tucano alegou que as afirmações de que ele acabaria com o projeto caso fosse eleito são "terrorismo eleitoral". "Tenho um projeto que transforma o Bolsa Família em um programa de Estado, para que ele seja um programa definitivo, independentemente de qual seja o governo que venha ganhar, qual seja o partido político", disse. Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) não participou ontem de compromissos oficiais ou de campanha. Eduardo Campos, do PSB, também não cumpriu agenda pública.
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