- Folha de S. Paulo
Para quem lidera as pesquisas e tem chances de vencer no primeiro turno, ainda que menores, soa inexplicável o nível de atritos e de tensão na campanha de Dilma.
Para quem sabe que um segundo turno pode ser mortal, como mostra o Datafolha, fica mais compreensível o ambiente de conflitos que tomou conta da equipe dilmista.
A quantidade de fios desencapados no comitê da petista revela um quartel-general dividido sobre a melhor estratégia para combater o inimigo --reflexo da existência de um "duplo comando" na campanha.
Dois grupos disputam o controle do pedaço. O do ex-presidente Lula, que reinou absoluto em 2010. E o da presidente Dilma, que não quer só cumprir ordens, como na eleição passada, mas ditar as regras agora.
Dizem que o clima foi pacificado depois da briga entre o lulista Franklin Martins e os dilmistas sobre o tom agressivo do site Muda Mais, que desagradou Dilma no episódio de ataques à CBF de Marin.
Mas é só aparência. O ar segue sufocante. A situação de Gilberto Carvalho, amigo de Lula e ministro de Dilma, é um exemplo. Dilmistas o querem fora do governo. Isolado dentro do Palácio do Planalto, ele gostaria de ficar onde está, mas sabe que a decisão é da presidente.
Cena recente é retrato fiel desta disputa. No balanço oba-oba protagonizado pelo governo sobre o "sucesso" da Copa, o Planalto convocou 16 ministros para bater bumbo. Um observador atento sentiu falta da presença de Gilberto Carvalho.
Ele e sua equipe foram os responsáveis por desarmar a bomba mais temida pelo governo durante a Copa, que poderia estragar a imagem do torneio: a dos protestos país afora, principalmente dos sem-teto em São Paulo. Ganharam o jogo sem fazer alarde, mas não foram convidados para a festa final da vitória.
Há quem diga que Gilberto não foi porque não quis. Mas quem viu a lista dos convocados jura que, nela, não estava o nome do ministro.
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