- O Globo
A inflação voltou a subir e deve ficar acima do teto da meta até o fim do período eleitoral. Pode ser que fique um pouco abaixo de 6,5% no final do ano, se não houver aumento de gasolina. A falta de reajuste fará a Petrobras continuar tendo perdas na importação do combustível. O cobertor só ficou curto porque o governo errou muito na condução da política econômica.
Há cinco anos a inflação roda em torno de 6%. É esse seu novo patamar, e a cada novo fato negativo a taxa estoura o teto de 6,5%. Pelo IPCA-15 divulgado ontem, que deu 0,39% em setembro, o índice em 12 meses foi para 6,62%. Essa prévia deve se confirmar no IPCA de setembro que será divulgado dia 8 de outubro. Pelos cálculos do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, o número do mês fechado ficará em torno de 0,45%, o que deixará o acumulado em um ano nos mesmos 6,62% da prévia.
A notícia boa é que a inflação está menos dispersa. O índice de dispersão caiu um pouco, de 58% para 56%. Isso na prática quer dizer que quase metade dos preços não subiu. No entanto, o que subiu afeta diretamente o bolso das famílias, como carne bovina, alimentação fora de casa e energia. Junto com passagens aéreas e empregado doméstico, esses cinco itens representam 75% do aumento no IPCA-15.
Não se espera um fim de ano tão ruim quanto foi o do ano passado porque as excelentes safras americanas de soja, milho e trigo ajudam a reduzir o item alimentação. O preço da carne de frango, por exemplo, tem a ver diretamente com a cotação do milho. O trigo afeta as massas e os pães. No ano passado, a safra foi ruim, e isso elevou muito a cotação dessas commodities. Há risco, como sempre nesse período do ano, de que os hortifrúti subam, ora pela seca prolongada, ora pelas chuvas, quando elas chegarem. Os reajustes de serviços estão em 8,6% em um ano.
Mais importante do que verificar o que foi que subiu é notar que temos ficado nesse ambiente de inflação alta há tempo demais. Isso vai reduzindo a renda disponível, principalmente quando bate em produtos que não podem ser suprimidos do orçamento. Confirmando-se no índice oficial o que essa prévia mostra, o mês de setembro será o 12º do governo Dilma em que se estoura o teto da meta.
O governo diz que só trabalha com o ano calendário e que ficou sempre em 6,5% ou menos. Mas o Banco Central não cumpriu o mandato de levar o índice para o centro da meta e já avisou que isso só ocorrerá em meados de 2016. E isso apesar de o governo reprimir alguns preços a ponto de criar dificuldades financeiras para as empresas. A redução da tarifa de energia em 2013 foi um tiro que saiu pela culatra.
Como foi que em um ambiente de economia em desaceleração, sem pressões inflacionárias externas relevantes, com a deflação rondando países europeus, com taxas abaixo de 2% nos Estados Unidos e números moderados em países como Chile, Colômbia, México, o Brasil não consegue reduzir a inflação?
Esse é um dos pontos fracos da administração Dilma. Felizmente, a taxa não está descontrolada, mas é alta demais por tempo demais em uma economia que está desaquecendo o nível de atividade.
O governo não conseguiu convencer o país do seu compromisso de levar a inflação para o centro da meta, os sinais da equipe econômica foram sempre ambíguos, a política fiscal foi expansionista, e o Banco Central foi visto como tendo menos autonomia do que no período Lula. Tudo isso instalou a inflação perto de 6,5%, o que faz com que qualquer choque de preços, como o que houve no ano passado em alimentos, leve o índice a ficar além do limite permitido pela política de metas.
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