• Julio Camargo afirmou ter repassado US$ 30 mi a Baiano, ligado ao PMDB
• Segundo o Ministério Público, parte do dinheiro foi destinado a Cerveró, ex-diretor da estatal preso na quarta
Aguirre Talento, Gabriel Mascarenha, Srubens Valente - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Um dos principais delatores da Operação Lava Jato deu detalhes à Justiça de como os pagamentos de propina a Fernando Soares, lobista ligado ao PMDB, passaram por um complexo processo de operações simuladas, depósitos em contas de empresas de fachada e transferências financeiras para contas de pelo menos sete países.
O caminho do dinheiro pago a Soares foi detalhado por Julio Camargo, que atuou como consultor intermediando contratos de empresas com a Petrobras, ao apresentar sua defesa à Justiça, onde ele também corrigiu valores que abasteceram o esquema de pagamentos de propina na Petrobras.
Segundo o Ministério Público Federal, o dinheiro repassado ao lobista abasteceu a propina que teria sido paga ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso na última quarta-feira (14).
Cerveró admitiu que mantinha relações com Soares, também conhecido como Fernando Baiano, mas nega ter recebido propina e afirma que não mantém contas bancárias no exterior, seja em seu nome ou de terceiros. A defesa de Baiano informou que ele só irá responder às acusações formalmente na Justiça.
Na resposta à ação penal já oferecida pelo Ministério Público Federal contra Camargo, Cerveró e outros personagens envolvidos na história, o consultor detalhou as transferências e também corrigiu o valor delas, de US$ 40 milhões para cerca de US$ 30 milhões.
As transferências foram feitas no Brasil, entre empresas que Camargo e Baiano mantinham, no exterior, envolvendo contas de empresas de fachada, e também por meio do doleiro Alberto Youssef, que intermediou parte dos repasses.
Segundo o Ministério Público, os repasses foram feitos a pedido de Baiano para que ele intercedesse junto a Cerveró com o objetivo de que a Petrobras contratasse a Samsung para o fornecimento de sondas de perfuração, contratos que foram efetivados.
O Ministério Público, porém, ainda não conseguiu comprovar o recebimento da propina pelo ex-diretor.
Segundo Camargo, a primeira comissão solicitada por Baiano foi de cerca de US$ 15 milhões. O pagamento ocorreu por meio da conta de uma de suas empresas, a Piemonte, mantida no Uruguai, para dificultar o rastreamento.
De lá saíram 35 transferências a outras contas que teriam sido indicadas por Baiano, todas no exterior, sediadas em países como Suíça, Estados Unidos, Luxemburgo, China, Espanha e Geórgia.
Depois, segundo a delação premiada, Baiano pediu uma nova comissão, desta vez de US$ 25 milhões, que não chegou a ser paga integralmente, mas passou por um processo ainda mais complexo, ao fim do qual cerca de US$ 15 milhões foram repassados.
Desta vez Camargo teve ajuda do doleiro Youssef para fazer os pagamentos. O consultor simulou contratos no Brasil com uma empresa de Youssef, a GFD Investimentos.
Camargo ainda realizou remessas ao exterior por meio de suas empresas, que foram usadas para transferir recursos a Youssef, também com o objetivo de repassá-los ao lobista e quitar sua dívida.
O Ministério Público acusou Cerveró de ter omitido da Justiça o fato de possuir um passaporte espanhol. O passaporte poderia facilitar a fuga do país.
A defesa do ex-diretor, porém, diz que na quinta (15) já havia informado possuir cidadania espanhola, ao entrar com pedido de habeas corpus. Nesta sexta, a Justiça Federal recusou o pedido de liberdade de Cerveró.
Colaborou Estelita Hass Carazzai, de Curitiba
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