- Folha de S. Paulo
O Ministério Público investigou, a imprensa cobrou e o Congresso prometeu reagir. Uma CPI foi instalada para apurar as graves denúncias, mas um acordão entre os partidos emperrou as investigações. Ao fim do prazo regimental, o relator não pediu o indiciamento de nenhum político sob suspeita.
O enredo está tão batido que ninguém mais quer ver o filme. No entanto, ele continua em exibição permanente em Brasília. A sequência da vez, batizada de CPI da Petrobras, está prestes a sair de cartaz na Câmara.
O relatório do petista Luiz Sérgio confirma a previsão publicada nesta coluna há quase oito meses. Desde a origem, a comissão estava "condenada a apurar pouco, ou quase nada, sobre a corrupção na estatal".
Não dava para esperar outra coisa. Dez integrantes da CPI, incluindo o presidente e o relator, receberam doações de empreiteiras investigadas na Lava Jato. Nenhum deles se julgou impedido de apurar suspeitas contra colegas e patrocinadores.
A cota de circo foi garantida. Em março, um assessor abriu uma caixa cheia de ratos, que saíram correndo pelo chão do plenário. Em maio, uma depoente ergueu os braços e cantou uma música de Roberto Carlos.
Outras passagens não tiveram nenhuma graça. A Câmara torrou R$ 1,2 milhão na contratação mal explicada de uma agência de espionagem. Deputados foram acusados de usar a comissão para intimidar testemunhas. Um deles ganhou o apelido de "pau-mandado". Hoje é ministro.
Cada passo da CPI foi controlado pelo peemedebista Eduardo Cunha. Acusado de receber propina no petrolão, ele estava tão tranquilo que se ofereceu para um depoimento voluntário. Saiu da sala sob aplausos.
A sessão estava destinada ao esquecimento, mas voltou a ser lembrada porque Cunha disse aos colegas não ter contas no exterior. Agora que os extratos apareceram, ele corre o risco de ser cassado por causa da mentira. Se isso acontecer, a CPI não terá sido tão inútil assim.
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