Por Raymundo Costa e Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA- No dia em que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff foi lido em sessão esvaziada na Câmara dos Deputados, governo e oposição definiram suas estratégias. Os oposicionistas querem retardar o processo com o objetivo de adiar a votação em plenário para depois do Carnaval. A ideia é mobilizar a sociedade e obter os votos necessários para o impeachment.
Já o governo quer suspender o recesso, que começa no dia 22, e dar celeridade ao processo. Acredita ter votos suficientes para barrar a iniciativa. Os dois lados creem que dezembro e janeiro são meses de baixa mobilização social. Responsável pelo início da tramitação do impeachment, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou ontem que vai instalar na segunda-feira a comissão especial que tratará do tema.
Enquanto PT e oposição definem suas táticas, trava-se em Brasília a disputa principal, entre a presidente e seu vice, Michel Temer, que em caso de impeachment assumirá a Presidência. Embora o ministro da articulação política, Jaques Wagner, tenha tentado ontem de todas as formas desmentir a ideia de rivalidade, chamando o vice de "democrata", a relação entre Dilma e Temer não é boa e se agravou.
Na quarta-feira, ao se pronunciar em reação à decisão de Cunha, a presidente não convidou Temer para participar do gesto. Ontem, conversou durante meia hora com o vice. Ao falar sobre o encontro, Wagner afirmou que Temer teria dito a Dilma que o pedido de impeachment não tem "lastro" constitucional. Por meio de sua assessoria, o vice fez questão de afirmar que não tratou desse assunto.
Temer teria se limitado a recomendar que a presidente adote uma "postura institucional" nos desdobramentos do processo. Nas entrelinhas, criticou a tentativa de Dilma de polarizar com Cunha, que responde a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara.
Em nota, os governadores do Nordeste manifestaram "repúdio" ao pedido de impeachment. No Rio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou Cunha pela primeira vez, dizendo que o presidente da Câmara "pensa nele e não no país".
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