Isabel Braga, Júnia Gama, Maria Lima Evandro Éboli - O Globo
-BRASÍLIA- A oposição quer aguardar ao menos fevereiro do próximo ano para votar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, quando acredita que se formará uma espécie de “tempestade perfeita": a volta das férias, a economia pior, desemprego, contas a pagar e o Congresso em pleno funcionamento recebendo pressão popular. Se o recesso parlamentar de janeiro for suspenso, ficarão em Brasília, na maior parte do tempo, apenas os integrantes da comissão especial, o que acabará fazendo com que os demais não vivenciem o “ambiente de impeachment”. Líderes oposicionistas admitem que não teriam, neste momento, votos necessários para aprovar a abertura do impedimento. Para que o processo seja aprovado em plenário, são necessários pelo menos 342 votos sim.
— A gente faz o carnaval do impeachment e depois fazemos o impeachment propriamente dito. O do Collor durou 42 dias. Até o final do ano teremos oito sessões. Devemos votar na comissão só em fevereiro — defendeu o vice-líder do DEM, Rodrigo Maia (RJ).
Ontem pela manhã, deputados do PSDB chegaram a defender a suspensão do recesso, para que não se passasse à população a ideia de que os deputados acolhem o impeachment, mas não querem trabalhar. Depois que o governo manifestou a intenção de acelerar a votação, a oposição disse que repensaria a ideia.
— Temos que ver se a estratégia do governo é aproveitar a frieza do mês de janeiro para sepultar a comissão especial do impeachment — disse o líder da minoria, Bruno Araújo (PSDB-PE). O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), reforçou: — Se tem uma manobra do governo de buscar celeridade, obviamente a oposição não vai dar suporte a essa estratégia.
No entanto, antes de o governo se manifestar favorável à aceleração do processo e contra o recesso, líderes da oposição defenderam a mesma posição.
— O que está em jogo é o afastamento da presidente Dilma. É evidente que não pode haver férias. A seriedade desse processo não compatibilizaria com férias parlamentares — disse o líder do PSDB, Carlos Sampaio.
O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), um dos mais fiéis aliados de Cunha, foi na mesma linha e defendeu um “Natal sem Dilma”:
— Com esses fatos tão graves, o Brasil em depressão, com desemprego generalizado, o Congresso para e só vai pensar em impeachment em fevereiro? Eles têm a obrigação de convocar no fim do ano, para passarmos o Natal sem Dilma.
Fim do recesso depende de maioria absoluta
A mudança de posição ocorreu na primeira reunião de avaliação na tarde de ontem. Para a oposição, o governo e o PT querem trabalhar no recesso, porque avaliam que, na volta, os deputados deverão ser bombardeados por suas bases. E que Dilma tentará cooptar os deputados com barganha de mais cargos “escancarando o balcão”. Para o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), se houver pressão da opinião pública, a estratégia do governo não irá funcionar:
— Balcão agora não resolve. Não tem nada mais forte que a opinião pública. O cara é capaz de tudo, menos votar contra a sua própria sobrevivência. O que vai contar agora é a sobrevivência.
A suspensão do recesso depende de concordância da maioria absoluta dos integrantes das duas casas do Congresso — 257 dos 513 deputados e 41 dos 81 senadores. O pedido, que precisa ser votado no plenário de ambas as casas, pode partir da própria presidente da República, de uma ação conjunta dos presidentes das duas Casas ou de requerimento da maioria dos membros da Câmara e do Senado.
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