Por Andrea Jubé e Raymundo Costa - Valor Econômico
BRASÍLIA - A crise na relação pessoal entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer se agravou, graças à versão dada pelo Palácio do Planalto à reunião que os dois tiveram ontem pela manhã. Segundo o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), Temer dissera a Dilma que o pedido de impeachment em tramitação na Câmara dos Deputados não tinha "lastro" constitucional. Por meio de sua assessoria, Temer afirmou que não tratou desse assunto com Dilma e que, como presidente do PMDB, também não vai se manifestar sobre esse assunto enquanto o partido não tiver uma posição definida sobre o tema.
O vice-presidente se preparava para viajar para São Paulo quando foi alcançado por um telefonema do Palácio do Planalto convidando-o para a reunião do conselho político do governo que a presidente Dilma pretendia realizar à tarde. O vice respondeu que não poderia ir porque estaria fora de Brasília. Um novo telefonema, convidando Temer para uma conversa com Dilma, fez com que o vice se deslocasse da base aérea até o Palácio do Planalto.
Dilma teria então perguntado a Temer, que é professor de direito constitucional, sobre o início do processo de impeachment decretado, na véspera, pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Segundo relato feito pelo vice-presidente a aliados, ele recomendou à presidente que adotasse uma "postura institucional" nos desdobramentos do processo. Nas entrelinhas, segundo os interlocutores de Temer, teria ficado clara uma crítica à tentativa da presidente de polarizar um debate com Cunha, que responde a um processo por quebra de decoro no Conselho de Ética.
Temer conversou com Dilma por cerca de meia hora, e depois seguiu para São Paulo, onde tinha compromissos. Na segunda-feira, Temer já tem duas agendas públicas em São Paulo: um evento à noite com empresários, no Palácio dos Bandeirantes, com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e uma solenidade na Federação de Comércio. Ele só retorna a Brasília no dia 8.
Dilma e Temer não se falavam há quase 15 dias. Eles se distanciaram depois que ele deixou a articulação política. A última vez que estiveram juntos foi no dia 24, no evento sobre migração de rádios AM para FM. Antes disso, eles haviam ficado mais de um mês sem conversar a sós.
O clima esquentou à tarde quando Temer tomou conhecimento das declarações do ministro da Casa Civil. Em entrevista coletiva, Wagner contou que também participara da reunião Segundo o ministro, Temer é um "democrata", um "constitucionalista", e acha que não há "lastro" jurídico para o impeachment.
"Temer tem uma trajetória longa de ser um democrata e um constitucionalista, ele acha que não há lastro para esse processo de impeachment", disse Wagner. "A relação (entre Dilma e Temer) é boa, não teve animosidade, o fato de ele ser do mesmo partido do presidente da Câmara (PMDB) não quer dizer muito", acrescentou Wagner. O ministro lembrou que o PMDB se dividiu na Câmara, sendo que uma parte do partido ficou ao lado do presidente Eduardo Cunha, fazendo oposição a Dilma.
Temer concorda que há divisão no PMDB sobre o impeachment. Como vice de Dilma e presidente do PMDB, não trata do assunto. Mas mandou sua assessoria desmentir categoricamente que houvesse dito que não havia "lastro" para o processo. O movimento do vice abortou uma articulação palaciana para pedir a ele uma condenação formal do pedido de impeachment, como aconteceu ontem com outras autoridades. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)
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