Por Renata Batista – Valor Econômico
RIO - Depois de retomar o ministério da Saúde para seu grupo no PMDB, os dois principais comandantes do partido no Rio de Janeiro, o presidente regional e presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, e o ex-governador Sérgio Cabral também recuperaram a vaga na Secretaria Estadual de Saúde.
Em meio a uma das maiores crises dos últimos anos no setor, desalojaram o atual secretário, Felipe Peixoto (PDT). Colocaram no lugar o médico Luiz Antonio de Souza Teixeira Júnior, nome ligado ao prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier (PMDB), uma escolha que também favorece os dois caciques na disputa local contra o presidente da Câmara, o também pemedebista Eduardo Cunha.
Peixoto é tido como uma escolha pessoal do governador Luiz Fernando Pezão. Foi também um dos mais criticados na montagem da equipe do governador e vinha reclamando da dificuldade de negociar com fornecedores. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, ele reclamava que a Secretaria de Fazenda não honrava os compromissos que assumia com os fornecedores, a quem a Saúde deve cerca de R$ 1 bilhão.
A área sempre foi comandada por nomes próximos ao ex-governador Sérgio Cabral e ao presidente do partido no estado, Jorge Picciani. O ex-secretário Sérgio Côrtes, por exemplo, é um dos homens na foto com guardanapos na cabeça em Paris, ao lado de Fernando Cavendish, da construtora Delta, e do próprio Cabral, um episódio que marcou a carreira política do ex-governador. A decisão de Pezão de colocar um nome de fora do grupo político de Cabral e Picciani é atribuída à influência do secretário de governo Paulo Mello (PMDB), adversário de Picciani no partido.
Já Bornier está implicado na Lava-Jato e, no partido, teme-se que seja um dos próximos alvos da operação. Bornier é tido como linha de apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de quem também é vizinho, na Barra da Tijuca. Trata-se de um manobra que pode favorecer o bloco pemedebista contrário ao impeachment, liderado pelo grupo de Picciani, contra os interesses de Cunha. O prefeito de Nova Iguaçu é aliado de Cunha, mas tem boa interlocução com o grupo de Picciani.
Ao contrário do que sugere a crise vivida atualmente pelos hospitais do Rio, a área tem um dos maiores orçamentos do estado e um elevado número de fornecedores. A gestão da maior parte dos hospitais do estado foi transferida, desde que Cabral assumiu, para as chamadas Organizações Sociais (OS). As Unidades de Pronto Atendimento (UPA), um programa de atenção básica de saúde que virou vitrine do governo do PMDB no estado, também têm sua gestão terceirizada para as OS. Luiz Antonio de Souza Teixeira Júnior é um dos nomes para disputar a prefeitura do município de Nova Iguaçu. Disputa o apoio de Bornier com outros dois secretários.
Como novo secretário, está prometendo renegociar todos os contratos, principalmente com as Organizações Sociais. O valor total da dívida com as OS, que está paralisando unidades de saúde em todo o estado, não foi informado nem pela secretaria estadual de Saúde nem pela de Fazenda, mas é estimado em cerca de R$ 600 milhões, aproximadamente 1,5% da despesa corrente do estado de janeiro a setembro, que foi de R$ 41 bilhões.
A pasta terá, em 2016, um orçamento de cerca de R$ 6,6 bilhões. Embora seja o quarto maior do estado, atrás da Previdência dos servidores (R$ 17 bilhões, da Segurança (R$ 11 bilhões) e da Educação (R$ 7 bilhões), é o que tem mais recursos para gastos, já que, nas outras três rubricas, a maior parte dos recursos vai para os o pagamento de pessoal.
De acordo com o secretário de Fazenda, Julio Bueno, a secretaria de Saúde começou o ano com um déficit de R$ 500 milhões, pagou cerca de R$ 3,6 bilhões e precisa de R$ 1 bilhão para fechar as contas. Apesar da crise que também atinge a esfera federal, os repasses para o estado, segundo Bueno, estão em dia.
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