Poucas manifestações sobre a crise brasileira poderão igualar-se, em clareza e autenticidade, à vigorosa valorização da moeda brasileira e das ações das companhias nacionais nos últimos dias.
À medida que desdobramentos da Operação Lava Jato traziam novas ameaças à permanência da presidente Dilma Rousseff (PT) no Planalto e à sobrevivência política de Lula, a Bolsa de Valores subia, puxada pelas empresas estatais, e caíam as cotações do dólar.
Não se esperem dos mercados escrúpulos ou juízos morais. Sua atividade é converter informações disponíveis em preços que orientem as decisões de investidores, empresários e consumidores -tarefa que realizam não à perfeição, mas com diligência inigualável.
Se falta feijão, que o produto encareça e mais gente se anime a cultivá-lo; se um modelo de automóvel tornou-se obsoleto, que seu barateamento atraia compradores. Entre as variáveis a instigar a oferta e a demanda, há de ser considerada a continuidade de um governo cuja impotência obstrui a recuperação da economia.
A conexão entre a paralisia decisória de Brasília e a severa recessão em curso é evidenciada pelos números recém-divulgados do Produto Interno Bruto brasileiro.
Sabia-se havia muito que 2015 seria um ano de ajustes dolorosos; os notórios desequilíbrios econômicos acumulados pelo país, entretanto, não bastavam para prenunciar tamanha catástrofe.
No início do ano passado, as expectativas mais consensuais para o PIB rondavam a estagnação -um crescimento pouco acima ou pouco abaixo de zero. Antes do trimestre derradeiro, nem o mais pessimista dos oráculos antevia a retração de 3,8% afinal apurada pelo IBGE.
Na história nacional, só se conheciam taxas semelhantes em momentos de choque financeiro, como a insolvência da dívida externa, em 1981, e o confisco da poupança, em 1990. Mas essa não é a única anomalia dos resultados.
Uma aterradora sequência de dez trimestres de investimentos em queda, prova material dos níveis baixos de confiança do empresariado, aponta que o cenário recessivo se manterá inclemente neste 2016 e poderá atingir marcas inauditas de duração.
Pior ainda, nem mesmo o inevitável aumento do desemprego serviu para aplacar uma inflação que se alimenta do rombo do Tesouro Nacional. Dessa forma, os juros não podem ser reduzidos para reativar o crédito e o consumo.
É a ausência de liderança política -e, em consequência, de solução para o Orçamento federal- que exacerba o pessimismo e os ajustes nos mercados, sejam de mercadorias, trabalho, ações ou moedas.
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