Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou a aliados, em conversas reservadas, que fará uma reforma ministerial nos próximos dias para recompor a base aliada e assegurar a aprovação de pelo menos uma fatia relevante da reforma da Previdência. A mudança de postura decorre da informação de que o PSDB devolverá os ministérios e demais cargos que ocupa no governo até o dia 9 de dezembro, data da convenção nacional dos tucanos.
Temer foi alertado de que os partidos da base aliada com bancadas expressivas -o próprio PMDB, além do Centrão, formado por PP, PR, PSD e PTB, - não querem a "xepa". Ou seja, se o presidente não recuar da intenção de promover a reforma somente em abril, quando os ministros se desincompatibilizam para disputar as eleições, não sobrarão ações com impacto eleitoral para os novos titulares.
Temer admitiu a interlocutores ter consciência do desembarque iminente do PSDB, diante da consolidação da liderança do senador Tasso Jereissati (CE) na disputa para a presidência da sigla. O presidente está convencido de que Tasso reforçará o discurso de que o PSDB tem de fazer oposição ao governo e se descolar do PMDB, apesar de ter participado com protagonismo dos primeiros 17 meses da gestão pemedebista.
Além dos quatro ministérios do PSDB - Cidades, Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos, - mais duas pastas são alvo preferencial dos aliados porque seus titulares não representariam mais nenhuma das siglas da coalizão de forças da base governista: Turismo e Minas e Energia. Os parlamentares também cobram mudanças na Comunicação Social, atualmente alojada na Secretaria Geral da Presidência, do ministro Moreira Franco.
Entre fatores determinantes para que Temer reconsiderasse sua decisão de promover a reforma somente em abril, está também a repercussão de um decreto do Ministério das Cidades, controlado pelos tucanos, que definiu os critérios para a redistribuição das unidades do Minha Casa, Minha Vida, o projeto de maior apelo popular do governo. O decreto acirrou os ânimos do Centrão e culminou na convocação do ministro Bruno Araújo para explicá-lo na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Araújo elegeu Estados comandados pelos tucanos para distribuição das casas populares, principalmente Pernambuco - sua base eleitoral, - e São Paulo, governado pelo presidenciável tucano Geraldo Alckmin.
Lideranças do PMDB e do Centrão reforçaram ao Planalto que não votarão mais matérias de interesse do governo enquanto a reforma ministerial não se concretizar. Os aliados querem, ainda, a participação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), porque está afinado com os líderes e à frente das articulações pela reforma previdenciária na Câmara.
A pasta mais cobiçada - principalmente por PMDB e PP - é o Ministério das Cidades, que conduz o programa de moradias populares. Além dos ministérios do PSDB, os aliados cobram a saída de Fernando Coelho Filho de Minas e Energia, atualmente sem partido, e de Marx Beltrão, do Turismo, que está no PMDB mas negociando com o PSD.
Temer gosta de Fernando Filho, que está conduzindo o processo de privatização da Eletrobrás. Mas recém-desligado do PSB, por ter apoiado o governo contra a direção do partido, ele cogita não se filiar mais ao PMDB, e pode ir para o DEM. Um aliado pondera que, nessa condição, o ex-pessebista não representa nenhum partido da base, e por isso não pode ficar no cargo.
Quanto a Beltrão, seu projeto é concorrer ao Senado em Alagoas pelo PSD. No começo do governo, Beltrão tinha o aval de Renan Calheiros (PMDB-AL) e da bancada do PMDB do Nordeste para a pasta do Turismo. Agora, entretanto, com a intenção de enfrentar Renan nas urnas - que busca a reeleição ao Senado, - Beltrão negocia a mudança para o PSD.
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