- Folha de S. Paulo
Jair Bolsonaro tem um período de longo aprendizado pela frente
Em mais uma demonstração do grande despreparo do núcleo bolsonarista para governar o país, Eduardo Bolsonaro, filho do capitão e deputado federal reeleito, declarou que bastavam um soldado e um cabo para fechar o STF.
É verdade que o desatino verbal é de julho, de modo que não configura uma resposta direta à investigação sobre financiamento ilegal na campanha bolsonarista aberta na semana passada pelo Judiciário, mas é revelador do desprezo do filho pelas instituições basais da democracia liberal. Não tenho provas, mas arriscaria afirmar que foi em casa que o jovem Bolsonaro aprendeu essas coisas.
Tudo indica que Jair Bolsonaro vencerá a corrida presidencial no próximo domingo, o que significa que precisará encontrar um modus vivendi com Judiciário, Legislativo e outras instituições. Ele, afinal, será eleito presidente e não ditador plenipotenciário, e, diferentemente do que pensa Eduardo Bolsonaro, acórdãos do Supremo podem muito mesmo contra presidentes.
Nesse contexto, é positivo que o pai tenha tentado desvincular-se das declarações do filho. Ainda está várias unidades astronômicas distante do necessário para uma convivência harmônica entre os Poderes, mas não deixa de ser um primeiro passo. Ele tem um longo aprendizado pela frente.
O episódio é revelador do que nos aguarda. Embora os mais apavorados já antecipem milícias bolsonaristas patrulhando as ruas e a volta do pau de arara, o mais provável é que enfrentemos uma Presidência que procura, através do discurso truculento, deslegitimar instituições e, em seguida, ampliar seus poderes.
Podemos esperar retrocessos em várias áreas, mas dificilmente veremos a reedição de uma ditadura. Nosso sistema de freios e contrapesos está longe do ideal, mas é mais do que uma peça de ficção constitucional. Embora difícil, não é impossível que Bolsonaro e a família saiam mais civilizados dos quatro anos de mandato.
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