- O Globo
Retórica política leviana e agressiva constrói um ambiente perigoso, que deve ser rechaçado por todos
A declaração do deputado Eduardo Bolsonaro sobre fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) é absurda e irresponsável, e se torna muito mais grave por se tratar do deputado federal mais votado da história do país, com 1.814.443 votos, e filho do provável eleito à Presidência da República, Jair Bolsonaro.
Estamos vivendo “tempos sombrios”, como adverte o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello. Tempos de retórica política leviana e agressiva. Tudo isso constrói um ambiente perigoso, que deve ser rechaçado por todos.
O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, disse em nota que “atacar o Poder Judiciário é atacar a democracia”. É justamente esse o conceito que deve prevalecer, independentemente de quem faça o ataque, e da maneira que for. Mas essa agressividade antidemocrática na retórica da nossa política não começou agora.
O ex-presidente Lula, atualmente preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, há muitos anos investe na retórica do “nós contra eles”, e estimula uma luta política que não respeita os adversários nem as instituições do país. Encontrou agora pela frente um populista de direita sem papas na língua, como ele, e o ambiente político do país ficou perigoso.
O deputado petista Wadih Damous, muito ligado a Lula, já disse explicitamente, há quatro meses, num vídeo postado em sua página no Facebook: “Tem de fechar o Supremo Tribunal Federal”. O deputado reclamava do ministro do STF Roberto Barroso, que, em julgamentos recentes, fora contra as posições da defesa de Lula.
Também o ex-ministro José Dirceu, outro condenado em liberdade condicional, falou recentemente em entrevista ao portal de notícias do Piauí 180 graus que “é preciso tirar todos os poderes do Supremo”. O ex-ministro também disse que é preciso mudar o nome da Corte. “Não sei por que chamam Supremo. Deveria ser só Corte Constitucional”, declarou.
Dirceu defendeu ainda que “Judiciário não é poder da República, é um órgão, mas se transformou em um quarto poder. Se o Judiciário assume poderes do Executivo e do Legislativo, caminhamos para o autoritarismo”.
A oito dias do julgamento do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), quando foi confirmada sua condenação e, consequentemente, decretada sua prisão, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, disse ao site Poder 360 que, para Lula ser preso, “vai ter que prender muita gente, mais do que isso, vai ter que matar gente”.
Essa retórica de guerra havia sido inaugurada pelo próprio ex-presidente Lula. Alguns exemplos: no dia 20 de outubro de 2014, durante um ato de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff em São Paulo, o ex-presidente voltou a um de seus passatempos prediletos, criticar a imprensa. Dessa vez, citou os nomes de Míriam Leitão, jornalista do GLOBO e da GloboNews, e William Bonner, editor-chefe e apresentador do “Jornal Nacional”, na Rede Globo.
Em outro ato, dessa vez no Teatro Oi Casagrande, no Rio, Lula voltou a ameaçar a mídia com o controle social, censura que o PT tentou diversas vezes nos governos Lula e continua sendo um ponto de seu programa hoje. Disse que a mídia teria que “trabalhar” para que ele não voltasse ao Poder, porque, quando voltasse, teríamos que nos preparar para a regulação.
Citou-me pessoalmente, dizendo que eu pedia sua prisão todos os dias, mas que teria que me preparar. Já em discurso no auditório da ABI, em fevereiro de 2015, em ato ironicamente chamado de apoio à Petrobras, Lula foi além do que já dissera, e afirmou: “Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas.”
Em agosto do mesmo ano, no salão nobre do Palácio do Planalto, na presença de cerca de mil integrantes de movimentos sociais ligados ao governo, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, radicalizou ao discursar em apoio à presidente Dilma Rousseff, alertando estar preparado para barrar qualquer tentativa de tirá-la do poder. “E isso implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se tentarem derrubar a presidenta.”
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