Parlamentares de diferentes partidos reclamam da ‘demonização’ da política e se irritam com ofensiva, inclusive dos filhos do presidente, nas redes sociais. Líder do governo já procurou deputados para pedir desculpas
Eduardo Bresciani / O Globo
BRASÍLIA - Parlamentares de diferentes partidos afirmam que a postura de setores do Palácio do Planalto e, principalmente, da bancada do PSL de “demonizar” a atuação política tem dificultado a construção de uma base aliada ao governo Jair Bolsonaro no Congresso.
As críticas, que já eram intensas nos bastidores, se ampliaram na semana passada. Essas reclamações encontram ressonância até dentro do governo. Um ministro classificou os ataques a potenciais aliados como uma “imaturidade amplificada pela internet” que precisa ser consertada. O descontentamento com essas atitudes está presente em vários partidos.
As principais queixas estão relacionadas a discursos dos aliados de Bolsonaro nas bases parlamentares, que procuram capitalizar a popularidade do presidente e carimbar o selo de “velha política” nos deputados de outras siglas, mesmo sendo estes aliados necessários para o Planalto. Um vice-líder do governo afirma que o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) tem buscado atuar para reduzir os danos. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), por exemplo, já procurou alguns deputados pedindo desculpas por ataques. Há preocupação, porém, com a postura dos filhos do presidente, pois, nesse caso, caberia a Bolsonaro colocar um freio. Até agora, isso não ocorreu.
Em uma reunião da bancada do PSDB, ocorrida na última quarta-feira, diversos deputados fizeram relatos de agressão em suas bases. Um episódio ocorrido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na semana passada deixou os tucanos especialmente irritados. O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) chamou repetidamente o presidente do PSDB, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, de “assassino de policiais”. E, mesmo depois que um tucano pediu a retirada das palavras dos anais da Câmara, Tadeu repetiu o ataque.
O líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), protocolou uma representação contra Coronel Tadeu no Conselho de Ética. Os ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vieram até de um dos filhos de Bolsonaro, e as comemorações de parlamentares do PSL pela prisão do ex-presidente Michel Temer geraram ainda mais irritação em deputados que tendem a apoiar o governo. Uma liderança da bancada ruralista chega a dizer que não haverá base aliada enquanto o governo não interferir para controlar os ânimos.
VELHAS PRÁTICAS
Apesar do discurso da bancada do PSL, um dos vice-líderes do governo diz que a renovação da Câmara não mudou os hábitos, pois os parlamentares novatos estariam ávidos por cargos e verbas para sua base eleitoral — as moedas tradicionais da política e desprezadas pelo governo. O deputado Julian Lemos (PSL-PB), por exemplo, foi flagrado em um áudio, revelado pelo GLOBO, defendendo, em uma conversa telefônica, a troca de cargos por votos.
A queda de popularidade de Bolsonaro na pesquisa Ibope divulgada na semana passada foi comemorada por parlamentares na Câmara. Eles acreditam que isso pode fazer com que o governo busque construir sua base da maneira tradicional, e não por pressão de redes sociais. O governo precisará do apoio de três quintos da Câmara e do Senado, em votação em dois turnos em cada Casa, para aprovar a Reforma da Previdência, prioridade da gestão Bolsonaro neste primeiro ano.
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