No
dia seguinte à invasão do Capitólio por seguidores de Donald Trump, o
presidente Jair Bolsonaro avisou que sua tropa pode replicar a baderna no Brasil. “Se nós não tivermos o voto
impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior
que os Estados Unidos”, disse.
Trump
questionou o resultado das urnas para mobilizar seus radicais contra a
democracia. O capitão mina a confiança no voto eletrônico para justificar uma
rebelião em caso de derrota. Na cabeça dele, o “problema” pode ser a solução
para se manter no poder pela força.
Na
véspera do carnaval, Bolsonaro editou novos decretos que facilitam o acesso a armas e munições. A iniciativa segue a
cartilha anunciada na reunião ministerial de abril passado: “É escancarar o
armamento no Brasil. Eu quero o povo armado”. Naquele momento, a ideia era fomentar
um levante contra governadores e prefeitos. No ano que vem, a mira deve se
voltar contra a Justiça Eleitoral.
No
discurso de Bolsonaro, armar o “povo” significa municiar aliados e seguidores.
Gente como o extremista Daniel Silveira, que incitou a violência contra o
Supremo e se disse disposto a “matar ou morrer” pelo chefe.
O
deputado marombado foi preso, mas suas ideias estão soltas na base
bolsonarista. Na sexta-feira, o ogro foi tratado como mártir pelo Clube
Militar. Em nota, a entidade exaltou a ditadura e falou em “arbitrariedades do
STF”. Apesar de defender o regime autoritário, reivindicou “liberdade de
expressão” para o conspirador.
A diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, alerta que a ofensiva armamentista do governo nada tem a ver com o discurso de autodefesa do “cidadão de bem”. Um dos novos decretos permite que o mesmo atirador compre 60 armas.
“Bolsonaro
incentiva abertamente a formação de milícias privadas. Esta é a principal
ameaça à democracia no Brasil, junto da politização das forças policiais”,
afirma a pesquisadora. Neste cenário, milícias que já elegem deputados e
vereadores podem ser usadas para subverter a corrida presidencial.
Em
entrevista recente à “Folha de S.Paulo”, o ministro Edson Fachin manifestou
“preocupação agravada com a corrupção da democracia” no país. Entre os sintomas
da doença, listou a “remilitarização do governo civil”, o “incentivo às armas”,
as “declarações acintosas de depreciação do valor do voto” e os ataques ao
Judiciário e à imprensa.
O
ministro desenhou o caminho para uma invasão do Capitólio tupiniquim. Ele
assumirá o comando do TSE em fevereiro de 2022, a oito meses da eleição
presidencial.
Velhas
novidades
O
Partido Novo se diz liberal, mas não perde uma chance de lustrar as botas do
capitão. Das 24 legendas na Câmara, foi a única a votar unida contra a prisão
de Daniel Silveira.
O
deputado Marcel van Hattem ousou comparar o bolsonarista ao ex-deputado Márcio
Moreira Alves. Um defende a ditadura e queria surrar ministros do Supremo; o
outro denunciou as torturas e foi cassado pelo AI-5.
Van Hattem foi o campeão de votos do Novo em 2018 e se tornou o primeiro líder da sigla em Brasília.
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