A
ciência é como a democracia e o melhor que temos para produzir conclusões
provisórias que dependem mais da realidade do que dos desejos
Precisamos
nos guiar pela ciência.
Estou entre os primeiros a subscrever essa ideia, mas é preciso cuidado para
não estabelecer com a ciência uma relação tão dogmática quanto a que se tem com
as religiões.
Para
início de conversa, a ciência quase nunca oferece certezas. Ela trabalha mais é
com probabilidades, e todas as conclusões que ela permite devem ser tratadas
como verdades provisórias. E é preciso enfatizar o “provisórias”.
Todas as teorias científicas produzidas até aqui se mostraram erradas, como é o caso da teoria médica dos humores, de Hipócrates e Galeno, ou gravemente incompletas, como a física newtoniana. Não temos nenhuma razão para acreditar que as teorias correntes, que ainda não fomos capazes de avaliar com precisão, experimentarão um destino muito diferente.
Um
observador sensato deveria trabalhar com a perspectiva de que tudo o que a
ciência considera conhecimento certo hoje não o será amanhã. E isso pensando só
em termos de teorias. Se formos às pesquisas acadêmicas propriamente ditas, o
arroz com feijão da ciência, o panorama é até pior.
Por
uma série de problemas, que vão da metodologia à estrutura das carreiras e das
publicações, boa parte das conclusões de trabalhos científicos que são feitos
atualmente está errada. Nas contas de John Ioannidis (Stanford), a maioria das
pesquisas em medicina não merece crédito. Para Jeffrey Leek (Universidade de
Washington), os erros alcançam só 14% dos estudos. Os números melhoram na
física, mas pioram nas ciências sociais e na psicologia.
Se as coisas são tão precárias, por que seguir a ciência? Creio que a ciência é um pouco como a democracia. É um sistema confuso, cheio de ruídos e distante de qualquer ideal. Ainda assim, é o melhor sistema que temos, se não para encontrar verdades, para produzir conclusões provisórias que dependem mais da realidade do que de nossos desejos. Não é pouco.
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