A
Petrobras está sob intervenção de militares. O presidente da empresa e do
conselho são um general e um almirante, o ministro da área, um almirante. A
empresa perdeu R$ 50 bilhões de valor, no pregão de sexta-feira e no after
market, e a governança foi violentada. Jair Bolsonaro alimentou a especulação,
anunciou a mudança pelo Facebook e o fato relevante veio só depois. O general
Joaquim Silva Luna foi um dos redatores da nota de ameaça ao Supremo em 2018. O
ministro da Economia, Paulo Guedes, virou um fantasma dentro do governo.
Acionistas podem entrar na Justiça porque tiveram prejuízo por ato temerário do acionista controlador. Várias regras das empresas de capital aberto e do estatuto da Petrobras foram feridas por Bolsonaro. O golpe foi executado em detalhes. Ao anunciar que indicava Silva Luna também para ser um dos membros do Conselho de Administração, o governo convocou uma Assembleia Geral Extraordinária. A Lei das S/A de 2001, artigo 141, parágrafo terceiro, diz que sempre que houver a destituição de um membro do conselho todos os outros estão destituídos. Assim, o governo preparou o bote. Se houvesse resistência ao nome do general Luna, entre os seus representantes no Conselho de Administração, todos os nomes restantes seriam trocados. À noite, o governo informou que os reconduzia. Contudo, ficou sobre eles a espada.
Bolsonaro
fez atos explícitos de populismo fiscal e de intervencionismo. Numa penada,
aumentou em quase R$ 5 bilhões as despesas públicas, eliminando impostos sobre
combustíveis fósseis, quando a equipe tenta cortar R$ 10 bilhões de um
orçamento exaurido e ainda não aprovado. Paulo Guedes terá que fazer mais um
truque ilusionista para fingir que cumpre a Lei de Responsabilidade Fiscal. A
pandemia exigiu gastos extras e suspendeu limites legais, mas o presidente tem
cometido crime de responsabilidade fiscal e não é por aumentar gastos na saúde.
Ele ignora a tragédia sanitária que atinge o país. A gestão de Bolsonaro elevou
o número de mortes do Brasil.
Os
tumultos criados pelo presidente e seus histriônicos radicais feriram a
economia e a política. Por eles, o país desperdiçou mais uma semana que deveria
ter sido dedicada à luta por saúde, auxílio aos mais pobres e reajuste das
contas públicas. O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que falou em dar uma
surra nos ministros do Supremo, “até o gato miar”, está fora do jogo. A Câmara
aprovou o ato do STF de prendê-lo. Ele provavelmente será cassado.
Silveira
ameaçou o Supremo. Bolsonaro, também. Silveira defendeu o AI-5. Bolsonaro, também.
Silveira é truculento e ameaça os adversários de eliminação física. Bolsonaro,
também. Silveira praticou crimes na internet. Bolsonaro, também. Silveira foi
preso. Bolsonaro governa o país. Do posto, conspira contra a democracia, a
economia e a saúde dos brasileiros. Na sexta-feira, ele, de chapéu de couro,
fazia demagogias no Nordeste. No sábado, numa escola militar, falou uma frase
dúbia sobre o regime democrático.
A
Petrobras será presidida pelo general Silva Luna, o Conselho pelo Almirante
Leal Ferreira e o ministro da área é o almirante Bento Albuquerque. Eles agora
farão juras à economia de mercado e à governança da empresa. Será mentira.
Alguns do mercado vão fingir acreditar. Há muita liquidez na economia global
procurando ativos.
No
Alto Comando do Exército, em 2018, quando o general Villas Bôas postou as
mensagens para intimidar o Supremo no julgamento do habeas corpus do
ex-presidente Lula, estavam o general Eduardo Ramos, o general Braga Netto, o
general Fernando Azevedo e Silva. O próprio Villas Bôas, mesmo no momento final
de uma doença degenerativa, ajudou a História ao informar que os integrantes do
Alto Comando foram ouvidos. O general Silva Luna era ministro da Defesa e
também soube. Perguntei ao atual ministro da Defesa, Azevedo e Silva, através
da sua assessoria, se ele havia visto a nota. “O ministro não vai comentar. O
conteúdo do livro cabe ao seu autor”, respondeu o Ministério.
A governança da Petrobras foi atacada por Bolsonaro para impor o controle de preços. Nem isso contentará os caminhoneiros. Bolsonaro é inimigo do liberalismo econômico e derrubou o valor da ação da Petrobras. Mas isso se recupera no futuro. O bem mais caro que Bolsonaro ameaça é a democracia. O país sabe o alto preço que pagou por ela.
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