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O Globo
Sem
entender, ou se preocupar, com a importância de cada palavra sua, especialmente
em questões sensíveis como a administração de uma estatal como a Petrobras, que
tem acionistas em várias partes do mundo, o presidente Bolsonaro prometeu que
na próxima semana teremos mais surpresas como a que derrubou o presidente da
Petrobras, Roberto Castello Branco, e colocou em seu lugar mais um general.
A politização vulgar de todos os temas nacionais, desde a questão das armas até
o preço do diesel, faz com que o presidente Bolsonaro transforme o cotidiano
brasileiro em um campo de batalha onde o que importa são os votos que esta ou
aquela decisão poderá trazer para sua obsessiva busca de manter o poder que conquistou
em momento de depressão nacional.
Emílio Delçoquio, um dos líderes da paralização dos caminhoneiros durante o
governo Temer, é amigo de Bolsonaro, e o acompanhou nos feriados de Carnaval em
Santa Catarina. Esta aproximação, no momento em que se discutia o aumento do
óleo diesel, é preocupante e leva a uma ilação natural de que a mudança na
Petrobras foi gestada naqueles dias.
O General Joaquim Silva e Luna, antes mesmo de assumir a presidência da
Petrobras, disse que a estatal tem que se preocupar, além dos acionistas, com o
povo brasileiro, que precisa encher o tanque de seu carro. A Venezuela também
botou um General no comando da PDVSA, e se preocupava com o preço da gasolina
nos postos. Tinha a gasolina mais barata do mundo, para alegria dos venezuelanos,
e a popularidade de Chávez. Mas o país quebrou, e junto com ele a empresa
estatal.
Nenhuma questão tomou mais a atenção da administração bolsonarista do que esta,
com mais de 30 decretos e regulamentações com o mesmo objetivo,
ampliar o uso e o acesso de armas de fogo ao cidadão comum, e o relaxamento do
controle que anteriormente era feito pelo Exército ou pela Polícia Federal, e
que passa a ser responsabilidade de clubes de tiros, ou liberado de uma
burocracia que, nestes casos, servia para manter sob o controle de organismos
do Estado o rastreamento de munições e o uso de armamentos e equipamentos antes
restritos aos militares.
Como adverte o ex-ministro da Defesa Raul Jungman, agindo assim o presidente
incorre em problemas sérios: está quebrando o monopólio da violência legal,
fator constitutivo do Estado nacional, cuja existência se dá a partir do
momento em que ele controla esse monopólio. As Forças Armadas, lembra Jungman,
são a base desse monopólio, e com isso perdem o papel de garantidor da
democracia.
Política de tal teor “está levantando o espectro terrível de uma guerra civil
entre os brasileiros”, lamenta Jungman, que lembra que as milícias e o crime
organizado saem vitoriosos desse afrouxamento de regras sobre o armamento,
fazendo letra morta o Estatuto do Desarmamento. Os grupos protofascistas dos
quais faz parte o deputado federal (ainda?) Daniel Silveira só cresceram em
audácia pelo ambiente permissivo de violência, verbal e física, instalado no
país por Bolsonaro.
A militarização dos quadros do Estado, que leva um general a substituir outro
na binacional Itaipu, por exemplo, mistura o que deveria ser óleo e água, com
políticos e militares disputando lugares na administração federal, cada qual
garantindo a Bolsonaro imunidades a seus alcances. Quando um presidente da
República anuncia que o regime democrático não é o que ele gostaria, está
declarando que sua preferência é outra, deixando no ar que prepara um futuro
mais adequado às suas inclinações ideológicas.
Cabe às forças democráticas barrarem esses delírios, como fizeram no caso do
deputado parlapatão, e como anunciam que farão com os decretos de armas.
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