Deputado,
que se dizia “cagando e andando” para as opiniões do STF, pensou em criar uma
crise institucional; deu errado, fosse qual fosse a intenção
Daniel
Silveira é um ex-PM do Rio. Em seis anos na corporação, pagou 26 dias de
prisão, com 14 repreensões. Antes de entrar para a polícia, ele se valia de
falsos atestados médicos fraudados por um faxineiro para faltar ao serviço.
Preso na semana passada, manteve dois celulares na sala da Polícia Federal onde
ficou, por decisão do ministro Alexandre de Moraes.
Esse
personagem, que dias antes se dizia “cagando e andando” para as opiniões de
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), pensou em criar uma crise
institucional no Brasil. Ele foi o estuário de uma visão nascida em 2018,
quando o deputado Eduardo Bolsonaro disse que “basta um cabo e um soldado para
fechar o Supremo Tribunal”. Não bastam.
Ao
seu estilo, Daniel Silveira usou a repercussão do depoimento do general da
reserva Eduardo Villas Bôas para atacar, em nome de sua agenda pessoal, os
ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Os inquéritos
sobre mobilizações antidemocráticas propagando mentiras estão na mesa de
Moraes. Fosse qual fosse a intenção de Silveira, deu errado.
Na
última terça-feira, quando os ataques do deputado chegaram ao conhecimento de
ministros do Supremo, vários deles discutiram o caso com Moraes. À noite, ele
mandou prendê-lo. Silveira sustenta que o flagrante citado por Moraes não se
sustenta. O que não se sustenta é sua jurisprudência. Enquanto uma mensagem
está postada pelo autor, o delito está em curso. (Depois que Silveira foi em
cana, o vídeo foi apagado.)
Pelo
andar da carruagem, ainda nesta semana o doutor poderá passar para um regime de
tornozeleira, com limitações cautelares. A partir daí, tudo dependerá do seu
comportamento.
A julgar pela sua conduta respeitosa durante a audiência de custódia de quinta-feira, o que foi combinado ficará de pé. Caso Silveira tenha uma recaída, saindo por aí “cagando e andando” por onde bem entende, cairá de novo na jurisdição de Alexandre de Moraes.
Villas
Bôas também esperou três anos
O
general da reserva Eduardo Villas Bôas ironizou o arroubo do ministro Edson
Fachin, que considerou “gravíssima” sua revelação dos bastidores da preparação
do famoso tuíte de 2018. Nele, o então comandante do Exército prensou o Supremo
Tribunal Federal na véspera do julgamento de um habeas corpus impetrado em
favor de Lula.
Villas
Bôas foi breve: “Três anos depois”.
Na
mosca. Fachin demorou para ficar indignado, e não foi por falta de exemplo,
porque o ministro Celso de Mello repudiou o tuíte no dia seguinte.
“Três
anos” também foi o tempo que Villas Bôas demorou para contar como produziu o
texto, colocado na sua conta pessoal do aplicativo. Com uma diferença: Fachin
demorou, mas pôs a cara na vitrine; Villas Bôas terceirizou parte da
iniciativa.
Nas
suas palavras:
“O
texto teve um ‘rascunho’ elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto
Comando residentes em Brasília. No dia seguinte — dia da expedição—, remetemos
para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o
texto final, o que nos tomou todo o expediente.”
O
general fez dois tuítes, somando 75 palavras. Se elas tomaram todas as horas do
expediente, cada uma foi medida. A certa altura, Villas Bôas assegurou que “o
Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de
repúdio à impunidade”. Deu no que deu.
Em
outros tuítes, Villas Bôas havia louvado o “soldado Luciano Huck” e uma
apresentação de Sabrina Sato na Academia das Agulhas Negras. Noutra ocasião,
defendeu o desempenho da atriz Regina Duarte, então secretária de Cultura, numa
entrevista, por sua “grandeza, perspicácia, inteligência, humildade, confiança,
doçura, (e) autoconfiança.”
Ao
revelar detalhes da edição do tuíte, Villas Bôas compartilhou sua gênese. Chefe
militar pode ouvir seus comandados por respeito e até mesmo por cortesia, mas
não revela isso três anos depois.
Imaginar
comandantes como Leônidas Pires Gonçalves ou Orlando Geisel contando que suas
palavras foram submetidas e discutidas com subordinados equivale a imaginá-los
de boné num show do cantor Belo na Maré.
Nunca
é demais lembrar o papelzinho que o general Dwight Eisenhower guardou no bolso
em 1944, durante o dia do desembarque das tropas aliadas na Normandia, caso a
operação fracassasse:
“Se
alguma culpa deve ser atribuída à tentativa, ela é só minha”.
Deu
tudo certo, e em 1953 ele se tornou presidente dos Estados Unidos.
Nunes
Marques
Na
noite de quarta-feira, os ministros do Supremo achavam que no dia seguinte a
Corte sustentaria a decisão de Alexandre de Moraes por 10x1.
Ficaria
vencido o ministro Nunes Marques. Feitas as contas do outro lado, entendeu-se
que esse resultado seria pior. E assim chegou-se à unanimidade.
Ricardo
Boechat
Completaram-se
dois anos da morte do jornalista Ricardo Boechat, e o laboratório Libb, que o
havia contratado para uma palestra em Campinas, interrompeu as negociações
amigáveis para custear a continuidade do tratamento médico de uma das filhas
que deixou, estimado em R$ 15 mil a R$ 20 mil mensais. Enquanto viveu, Ricardo
Boechat arcou com essa despesa.
Boechat
morreu quando caiu o helicóptero que o trazia de volta a São Paulo, depois de
uma palestra no Libb, em Campinas.
Contratualmente,
o transporte de Boechat era de responsabilidade do Libb. A aeronave estava
bichada, e a empresa contratada não tinha autorização para fazer esse tipo de
serviço.
Depois
de quatro meses de negociações amigáveis, o laboratório Libb resolveu
judicializar a questão. Ele é o oitavo maior do mercado, com o slogan “empresa
inspirada pela vida”.
Numa
conta de padaria, uma decisão de primeiro grau poderá demorar mais de um ano.
Com recursos, pode-se ir a cinco anos.
Turismo
irresponsável
Disposto
a mostrar que não é um “maricas”, Jair Bolsonaro passou o carnaval na praia,
festejando curiosos, sempre sem máscara.
Seu
governo lançou a campanha “Turismo Responsável”, criando um selo para agências
de serviços e empresas.
Quem
vê os vídeos da propaganda do selo pode pensar que está na Nova Zelândia. Lá,
sob o comando da primeira-ministra Jacinda Ardern, morreram 26 pessoas, cinco
para cada milhão de habitantes. Na terra das palmeiras, onde canta o capitão,
morreram mil para cada milhão de brasileiros.
Perseverança
Depois
de cinco meses de viagem, o robô Perseverance pousou em Marte.
Completaram-se
14 meses do dia em que o repórter Aguirre Talento revelou a existência de um
edital do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)que torraria R$ 3
bilhões na compra de equipamentos eletrônicos para escolas públicas. Os 244
alunos de um colégio mineiro receberiam 30.030 laptops.
Ainda
não se sabe quem botou esse jabuti na burocracia do FNDE.
A perseverança da Nasa é coisa de principiantes.
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