Óleo de soja e arroz aumentaram muito mais que diesel. Bolsonaro vai intervir?
Em
um ano, o
óleo de soja ficou 96% mais caro. O óleo diesel, 2% mais barato,
segundo o IPCA de janeiro. Nas contas da Agência Nacional do Petróleo, o diesel
encareceu 2% de fevereiro de 2020 para cá.
Talvez
um ano apenas não conte bem a história da carestia do combustível. Considere-se
então o que aconteceu desde
outubro de 2016, quando a Petrobras passou a reajustar seus preços com mais
frequência, com base na cotação internacional. O óleo de soja ficou
123% mais caro. O óleo diesel, 23%. O arroz, 67%. O quilo de alcatra, 41%.
O
problema não seria apenas o preço
alto do combustível, se diz por aí, mas sua variação excessiva. No
entanto, os preços do diesel ou da gasolina são menos voláteis do que os
de arroz,
feijão, alcatra ou óleo de soja, pelo menos desde 2016.
Jair
Bolsonaro vai intervir nos preços da comida, como ameaça fazer com a Petrobras?
Mais difícil. Não existe uma Vacabrás ou uma Arroz Pátria Amada S.A. Por falar
nisso, assim como ferro e petróleo, grãos e carnes têm preços definidos no
mercado mundial.
Não há Vacabrás nem tampouco grande grupo organizado de protesto daqueles que não podem comprar arroz. O povo definha quieto, ainda mais em tempo de esquerda semimorta. Mas existem movimentos caminhoneiros e empresariais fortes o bastante para quase levar o Brasil ao colapso rodoviário. Alguns são falanges de Bolsonaro, animador do caminhonaço de 2018.
Obrigar
a Petrobras a cobrar abaixo do preço de mercado não apenas diminuiria seu
faturamento, os dividendos que paga ao governo, elevaria seu custo de financiamento
e limitaria seu crescimento. Se a crise ficar barata, a Petrobras vai perder
dezenas de bilhões de reais (centena?).
Por
ora mais relevante, a mera percepção de que o governo possa vir a meter a pata
em empresas tende a elevar custos de financiamento (juros mais altos, inclusive
para o governo) e limitar investimentos na economia em geral.
Bolsonaro
partiu para a demagogia econômica explícita. Abriu mais um buraco no Orçamento
ao isentar gás e diesel de impostos, embora ainda gaste menos do que Michel
Temer no pagamento desse suborno-resgate. Cometerá crime fiscal caso não corte
outro gasto ou não aumente algum imposto para compensar.
A
história de que o governo “responsável” procurava compensações para a nova
despesa com o auxílio emergencial se torna assim mais ridícula. O auxílio está
à beira de passar no Congresso com compensações apenas para inglês ver, mais
uma promessa como o trilhão das privatizações de Nostradamus de Paulo Guedes
(acontecerão em algum momento dos séculos por vir). Por falar nisso, quem vai
comprar refinaria da Petrobras quando o governo mete a mão nos preços?
Sim,
esta análise tem a perspectiva limitada da gerência elementar de uma economia
de mercado e seus requisitos mínimos de funcionamento. É o máximo que se pode
esperar sob o governo militar bolsonariano.
Como
um projeto de tirano aloprando em um bunker ou porão, Bolsonaro não dá a mínima
para o risco de arruinar o país: ele é capaz de tudo, e incapaz também. Corre
agora risco maior de implodir seu próprio governo e prestígio, popularidade que
poderia manter à tona vacinando em massa e obedecendo ao menos à mediocridade
habitual de sua equipe econômica. Mas, se um quarto de milhão de cadáveres e
outras ruínas não o derrubaram, por que não dobrar a aposta na monstruosidade
ignorante e tocar o golpe por outras vias?
Donos do dinheiro grosso vão reagir ou continuam achando que Bolsonaro ainda está no preço?
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