“O
melhor negócio do mundo já não é uma refinaria de petróleo, como dizia David
Rockefeller. Estamos vivendo uma grande mudança de matriz energética”
A história é singela, mas ilustra o impacto da modernização nos meios de produção e na organização do trabalho, resguardadas as devidas proporções, é claro. E nos remete aos caminhoneiros e à situação da Petrobras, símbolo do nacional desenvolvimentismo e do nosso capitalismo de estado. Ontem, por pressão dos caminhoneiros insatisfeitos com a alta de preços dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Cunha Castelo Branco, e nomeou para o cargo o general Joaquim da Silva e Luna, ex-ministro da Defesa do governo Michel Temer.
É
como se o governador Florentino Avidos, que importou a ponte de ferro da
Alemanha em 1927, proibisse a linha de lotação para atender aos catraieiros.
Caminhoneiros já derrubaram um presidente da República, protagonizando a crise
que facilitou o golpe do sanguinário general Augusto Pinochet no Chile, no qual
o presidente Salvador Allende foi assassinado, em 1973. No Brasil, com a greve
de 2018, caminhoneiros integraram a vanguarda da campanha de Jair Bolsonaro,
que agora é refém da categoria. Recentemente, engavetou a nova lei da
cabotagem, que baratearia os transportes de carga e reativaria a indústria
naval, por pressão dos caminhoneiros. Bolsonaro teme uma nova greve da
categoria como o diabo foge da cruz, porque vê uma conspiração para destituí-lo
do cargo instalada no Palácio do Jaburu.
Acontece
que a troca do executivo civil por um general sinalizou para o mercado a
ruptura com o princípio de não-interferência do governo na política de preços
da Petrobras, que é uma sociedade anônima, cujas ações despencaram nas bolsas
de Nova York e São Paulo. A perda foi de R$ 28,2 bilhões no valor de mercado,
num único dia. O tamanho do prejuízo dependerá dos próximos passos do governo e
da competência do novo presidente da empresa, que não é do ramo, como o
ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. As novas políticas de preços de
combustíveis e de desinvestimento da Petrobras não dependem só do “manda quem
pode, obedece quem tem juízo”.
Com
sede em Viena (Áustria), a OPEP foi fundada por Arábia Saudita, Venezuela, Irã,
Iraque e Kuwait. Depois incorporou: Líbia (1962), Emirados Árabes (1967),
Argélia (1969), Nigéria (1971), Gabão (1975), Angola (2007), Guiné Equatorial
(2017) e Congo (2018). Esses países controlam 78,7% das reservas de petróleo do
mundo. Entretanto, o melhor negócio do mundo já não é uma refinaria de
petróleo, como dizia David Rockefeller. Estamos vivendo uma grande mudança de
matriz energética, em plena recessão mundial provocada pela pandemia de
covid-19, que afeta de forma acelerada e profunda o mercado automotivo e,
consequentemente, de combustíveis. Não foi à toa que a Ford fechou suas
fábricas no Brasil.
No auge da crise do governo Dilma Rousseff, o presidente de uma das “Sete Irmãs” no Brasil queixava-se de que há sete anos não havia leilões do pré-sal, o que desorganizava todo o “cluster” do petróleo, que migra de país de acordo com a intensidade de exploração. “Entre a prospecção e a produção, o ciclo de retorno de investimento no pré-sal leva 20 anos”, explicou. Retirar petróleo em águas profundas custa caro. A Petrobras não tem capital para explorá-lo na velocidade necessária e, em 20 anos, pode até ficar com um mico na mão. Por isso, como aconteceu com os catraieiros, o lobby dos caminhoneiros não tem futuro. Vem aí, rapidinho, o caminhão elétrico.
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