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O Globo
Todas
pesquisas recentes revelam queda na popularidade do presidente Bolsonaro, que
mantém ainda cerca de 25% a 30% de apoio, mas seu núcleo duro gira em torno dos
15%, segundo revela a mais recente pesquisa do Datafolha. São esses seguidores
fanáticos, que o apoiam, faça o que fizer, que garantem um patamar mínimo para
a manutenção de sua popularidade em níveis competitivos.
Esse
grupo seria a base barulhenta que sustentou a candidatura de Bolsonaro em 2018
e ainda hoje é arregimentada para trabalhos sujos, como os ataques contra a
médica Ludhmila Hajjar comandados pelos integrantes do gabinete do ódio de
dentro do Palácio do Planalto. Os ataques diretos ao Congresso e ao Supremo
Tribunal Federal (STF) foram controlados pela reação rápida e até mesmo
temerária do STF, que abriu inquéritos para investigar as ações desses grupos
nas redes sociais.
Classifico de temerária porque o Supremo é investigador e juiz de casos de fake
news que configuram ataques contra a própria instituição, sem a interferência
do Ministério Público. Essa anomalia, no entanto, foi superada pelos fatos
subsequentes, quando ataques à própria democracia foram realizados, com o apoio
tácito do presidente Bolsonaro.
A prisão do deputado Daniel Silveira foi exemplar no sentido de tentar
erradicar esses abusos da liberdade de expressão. Vários artigos da
Constituição foram afrontados pelo deputado, como propagar ideias contrárias à
ordem constitucional e ao estado de direito, além de crimes contra a honra dos
ministros do STF, segundo a Lei de Segurança Nacional.
O uso abusivo desse entulho da ditadura militar pelo ministro da Justiça, André
Mendonça, que aciona a Polícia Federal para perseguir qualquer pessoa que
critique o presidente Bolsonaro, cria um ambiente de intimidação incompatível
com a democracia. São perseguidos especialmente jornalistas e artistas, como o
comediante Danilo Gentili, que, a pedido do Congresso, está sendo processado
por ter dito que gostaria de dar um soco em deputados federais, apesar de ter
se desculpado. Também o youtuber Felipe Neto, por ter chamado Bolsonaro de
“genocida”, quando existem processos, já sendo analisados no Tribunal Penal
Internacional de Haia, devido a acusações de grupos de defesa dos direitos
humanos, como a Comissão Arns, que o acusam de “incitar o genocídio”.
Até mesmo um advogado, Marcelo Feller, foi enquadrado na LSN por ter criticado
o presidente Bolsonaro durante o combate à pandemia da Covid-19. Também
professores da Universidade Federal de Pelotas foram obrigados pela Controladoria-Geral
da União a assinar um termo de ajustamento de conduta por ter criticado o
presidente. A reação foi tão grande que o governo desistiu da sandice. A
Faculdade de Direito da UNB soltou uma nota em que informa “à sociedade
brasileira e em especial a todos os professores e alunos brasileiros que
seguirá respeitando e garantindo a liberdade de ensino, sem ceder um único
milímetro a quaisquer pressões de natureza despótica e inconstitucional”.
O caso mais ridículo é o de cartazes com críticas a Bolsonaro, considerados
“crime contra a honra”, em Palmas (TO). Um diz que Bolsonaro “vale menos que um
pequi roído”, gíria local para pessoas que não valem nada. O outro, que o
presidente “mente”. Essas reações, além do espírito autoritário do governo, mostram
como a imagem do presidente está desgastada.
O último Datafolha revela clara rejeição ao governo. É uma tendência
inexorável, que não dá para recuperar, a não ser que faça mea culpa e mude de
atitude. Caso contrário, Bolsonaro sairá da pandemia muito mais desgastado, e o
país mais tarde do que poderia. Bolsonaro fez uma jogada política arriscada,
pensando na reeleição. O governo deveria ter dado o auxílio emergencial mais
rapidamente, mas não teve visão imediata dos problemas sociais que poderiam acontecer.
Tentou minimizar a gravidade da crise sanitária e perdeu, fazendo com que
perdêssemos todos.
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