A
estratégia de responsabilizar governadores e prefeitos pela crise sanitária,
adotada por Bolsonaro, fracassou: 56% dos entrevistados o consideram incapaz de
liderar
A
pesquisa DataFolha de ontem confirmou o que mundo político já estava esperando:
o governo Bolsonaro vive o seu pior momento, acumulando desgastes,
principalmente em razão das suas atitudes negacionistas em relação à pandemia
da covid-19, cujo descontrole assombra o mundo. Segundo o instituto, cresceu
para 56% o número de brasileiros que consideram o presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) incapaz de liderar o país. Em janeiro, eram 50%. A pesquisa caiu
como uma bomba no Palácio do Planalto, a jaula de cristal na qual a bolha dos
partidários do presidente da República nas redes sociais tem mais influência
nas decisões do que todos os demais interlocutores do governo juntos.
Segundo o levantamento, o percentual de brasileiros que consideravam Bolsonaro capaz de liderar caiu de 46% para 42% de janeiro para março, com oscilação negativa no limite da margem de erro. Em abril de 2020, ele era considerado capaz de liderar o país por 52% dos brasileiros, em detrimento de 42% que o julgavam incapaz. Entre os que hoje julgam o presidente mais incapaz estão os mais ricos, que ganham acima de 10 salários mínimos (62%), os que têm curso superior (também com 62%) e moradores da região Nordeste, dos quais 63% julgam o presidente incapaz de liderar o Brasil. A base de apoio de Bolsonaro mais resiliente é formada por moradores das regiões Sul (51%) e Norte/Centro-Oeste (49%) e evangélicos 52%.
O
desempenho de Bolsonaro na pandemia é que puxa sua avaliação para baixo: 54%
dos entrevistados avaliam como ruim ou péssimo. Na pesquisa anterior, realizada
em janeiro, esse índice era de 48%. Segundo o levantamento, 22% consideram
ótima ou boa a performance do presidente da República na condução do
enfrentamento à pandemia. O índice anterior era de 26%. Esse desempenho
fortalece os aliados do governo no Congresso, que pediram a cabeça do general
Eduardo Pazuello, defenestrado do Ministério da Saúde, mas não conseguiram
emplacar no cargo o deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), presidente da Comissão de
Seguridade Social da Câmara. Bolsonaro nomeou o médico paraibano Marcelo
Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A
estratégia de responsabilizar governadores e prefeitos pela crise sanitária,
adotada por Bolsonaro duramente a crise sanitária, fracassou completamente:
para 42% dos entrevistados, a responsabilidade é do presidente da República. Os
demais responsáveis se- riam: governadores, 20%; e prefeitos: 17%. As atitudes
de Bolsonaro contra o isolamento social e o uso de máscaras, e a falta de uma
campanha publicitária nacional de mobilização contra a pandemia, fruto também
do negacionismo, se refletem no grau de responsabilidade atribuída à própria
população: 1%. No ranking dos mais empenhados na luta contra a covid-19,
governadores (38%) e prefeitos (28%) deixam Bolsonaro (16%) na rabeira.
A aposta de Bolsonaro é de que a situação pode ser revertida com a vacinação em massa da população, que está muito atrasada, porém, o governo iniciou uma corrida para comprar imunizantes, todos os que forem possíveis. O atraso nas vacinas existe porque a prioridade era outra, o tratamento precoce com cloroquina. Em outra frente, o Ministério da Cidadania prepara a medida provisória do auxílio emergencial, que Bolsonaro pretendia levar pes- soalmente ao Congresso ainda ontem, mas não ficou pronta. Sua aposta é de que o auxílio mitigará os desgastes com a pandemia, ao possibilitar um alívio à chamada população de “invisíveis”, que perdeu as fontes de renda com a pandemia.
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