História
que se repete como farsa
Se um marciano, que sobrevoou o Planalto há um ano, tivesse retornado para ver como as coisas estão, seria capaz de imaginar que regulara sua nave para uma viagem de volta ao passado. Ou, em se tratando do Brasil, uma viagem de volta ao futuro.
Passado
e futuro deram-se as mãos, ontem, em cenários distintos. Num deles, anunciou-se
mais um recorde na média móvel de mortos e de infectados pela pandemia. O país
avança na direção do maior colapso sanitário hospitalar da sua história.
No
outro cenário, o governo do presidente Jair Bolsonaro deu-se ao luxo de exibir
um par de ministros da Saúde seguros de si – um do que acha que fez muito, o
outro do que pretende fazer, ambos em perfeita sintonia e a baterem na tecla da
continuidade.
É tudo o que o Brasil não precisa – continuidade. Uma simples passagem de bastão entre o ministro que sai, o general Eduardo Pazuello, especialista em logística capaz de trocar Rio Branco por Manaus, e o que entra, Marcelo Queiroga, médico bolsonarista.
Pazuello
apresentou Queiroga como uma pessoa que “reza” pela mesma cartilha sua, o que,
a ser verdade, é uma péssima notícia. A dar-lhe razão, Queiroga, entusiasmado,
recitou o bordão do seu novo chefe: “Brasil acima de tudo, Deus acima de
todos”.
À
falta de quem se dispusesse a louvá-lo, Pazuello declarou com o peito estufado
como de costume: “Vou entregar a ele um ministério estruturado, organizado,
funcionando e com tudo pronto”. (Do alto, o marciano observava cada vez mais
intrigado.)
Ao
que completou Queiroga, com a pompa requerida pelas circunstâncias: é
necessária “uma união nacional para o enfrentamento à pandemia.” Em seguida,
animados, os dois pregaram como se o vírus fosse um recém-chegado por aqui.
O
general: “Vamos mudar hábitos. Hábito de usar máscara, de lavar as mãos. Hábito
de manter o grau de afastamento social. Vamos trabalhar, estudar, ensinar,
treinar tropas, produzir, viver normalmente com cuidados preventivos. Essa é a
nossa missão.”
O
médico, que nunca ocupou um cargo público em sua vida, prometeu dar “início ao
maior programa de imunização do país”, mas logo acrescentou de modo a não ser
mal interpretado, arriscando-se a perder o emprego tão depressa:
–
A política pública colocada no governo, não só no Ministério da Saúde, é a
política do governo federal, do presidente da República, que foi eleito pelo
povo brasileiro.
O
marciano deu partida na sua nave convencido de que passado e presente nesta
parte do planeta se fundiram para atrapalhar a construção do futuro.
Lula
livre, desde que o Supremo não engate uma marcha ré
Segurança
jurídica relativa
A
dar certo o que se trama no escurinho das sessões virtuais do Supremo Tribunal
Federal, a princípio será assim: o plenário confirmará a decisão do ministro
Edson Fachin, relator das ações da Lava Jato, que livrou o ex-presidente Lula
das condenações nos processos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia,
devolvendo-lhe os direitos políticos, entre eles, o de se candidatar.
Se
assim for, não haveria razão para que a Segunda Turma do tribunal, formada por
Fachin, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Nunes Marques,
julgue o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Lula que, se
acatado, resultaria em declarar suspeito o ex-juiz Sérgio Moro. A suspeição de
Moro poderia anular outras condenações assinadas por ele.
O nó da questão atende pelo nome de Gilmar Mendes, presidente da Segunda Turma, disposto a impedir a jogada que preservaria uma Lava Jato embora enfraquecida, e significaria a vitória da tese defendida por Fachin – se Lula está livre e desimpedido, não haveria por que julgar Moro. Não se descarta, porém, que uma eventual pressão militar ainda possa atrapalhar o futuro de Lula.
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