O Estado de S. Paulo
Reunião com o presidente eleito reforça
percepção de que Fernando Haddad vai para a Fazenda
A longa reunião da terça-feira de Lula com
a equipe da economia consolidou a orientação do presidente eleito de que o
espaço para gastar em 2023 na PEC, em negociação no Congresso, não pode ser
inferior ao patamar de 19% do PIB.
Esse é o nível de despesas que o governo
Bolsonaro deixará ao fim do seu governo. Lula deixou claro na reunião que não
pode fazer menos.
Falou também da necessidade de diálogo, sinalização de que não seguirá o caminho do confronto com o Congresso.
O valor de despesas em 19% do PIB é chave
nas negociações da PEC, como revelou a coluna “A matemática da PEC”, da semana
passada.
Como o Orçamento de 2023, que chegou ao
Congresso em agosto, prevê um total de despesas de 17,58% do PIB, a diferença
(algo próximo de R$ 150 bilhões) é a senha para o tamanho da licença para
gastar na PEC a ser negociada com senadores e deputados.
Um patamar próximo de R$ 150 bilhões é
maior do que os R$ 136 bilhões, exposto pelo ex-ministro da Fazenda Nelson
Barbosa. O valor dependerá do resultado do PIB que será divulgado hoje.
O número ditará muito os rumos da narrativa
que os negociadores políticos, principalmente Wellington Dias, tentam construir
desde a semana passada nas costuras políticas para aprovação da PEC.
A reunião consolidou também a percepção de
que Fernando Haddad será anunciado como ministro da Fazenda do governo Lula 3.
E mais do que isso: que Lula tomou a frente da coordenação econômica.
Lula mais ouviu do que falou. Um por um dos
participantes teve espaço para falar sobre a PEC, negociações e importância da
regra fiscal que substituirá o teto de gastos. Daí a longa reunião, que começou
pela manhã, passou pelo almoço e terminou à tarde.
Alckmin, Gleisi, Haddad, Mercadante e o
quarteto de economistas da transição, que agora virou sexteto. Além de André
Lara Resende, Guilherme Mello, Nelson Barbosa e Persio Arida, passaram a
integrar o grupo Haddad e Gabriel Galípolo.
Não se discutiram detalhes de regras fiscais para o futuro,
mas, sim, a necessidade de olhar para frente, depois da PEC, mostrar um caminho
de sustentabilidade fiscal com um novo arcabouço e de fazer a mudança
tributária – tema prioritário para Haddad.
Nesse ponto, houve consenso. Mas no grupo
de participantes ficou clara a divisão entre aqueles que preferem o caminho do
confronto nas negociações e o do diálogo. A fala de Lula e os arranjos
políticos tocados por ele nesta semana desencorajam o primeiro grupo.
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