Correio Braziliense
Severino Theodoro de Mello, o Pacato, militante
histórico do PCB, era “Vinícius”, um super espião da inteligência militar nos
anos de chumbo
O novo livro de Marcelo Godoy, “Cachorros”
(Alameda), já à venda na internet, remove velhos esqueletos dos porões do
regime militar e sua infiltração nas organizações de esquerda, sobretudo a
cooptação de um dirigente histórico do antigo PCB, Severino Theodoro de Mello.
O novo livro de Marcelo Godoy, “Cachorros”
(Alameda), já à venda na internet, remove velhos esqueletos dos porões do
regime militar e sua infiltração nas organizações de esquerda, sobretudo a
cooptação de um dirigente histórico do antigo PCB, Severino Theodoro de Mello.
Mello contribuiu para sequestros, mortes, prisões e desaparecimentos que ajudaram a neutralizar o PCB nos anos 1970. Com a publicação do livro “A Casa da Vovó: uma biografia do DOI-Codi, relatos inéditos de policiais e militares que atuaram nos centros de torturas e assassinatos do regime”, ganhador dos prêmios Jabuti (não ficção) e melhor Ensaio Social da Biblioteca Nacional, questionamentos de dirigentes oriundos do antigo PCB sobre esses depoimentos, que classificam os infiltrados como “cachorros”, desafiaram Godoy a aprofundar suas investigações, sobretudo sobre o veterano dirigentes do PCB.
O resultado é seu novo livro, lançado 10 anos
depois, com revelações surpreendentes, entre as quais a morte de Theodoro de
Mello, aos 105 anos, no Recife, tão clandestinamente como fora a sua trajetória
de dirigente do antigo Partidão. Godoy somente soube do paradeiro de “Vinícius”
ao descobrir que Mello deixara de receber os soldos de capitão do Exército
brasileiro, por falecimento. A infiltração no PCB era estratégica para os
militares, porque o Partidão conseguiu se rearticular durante a abertura e influenciar
toda a oposição democrática, até a eleição de Tancredo Neves, apesar dos duros
golpes que sofreu após a vitória do MDB de 1974.
Via chilena
A organização do aparelho de repressão do
regime militar atingiu novo patamar após o golpe militar do general Augusto
Pinochet, no Chile, em 1973. Militares brasileiros que auxiliaram os colegas
chilenos a interrogar brasileiros no Estádio Nacional foram identificados e
entrevistados por Godoi. Doutor Pirilo, o capitão Antônio Pinto, da
Aeronáutica, conta no livro como foi a morte de Stuart Angel Jones e como
interrogou outros integrantes do MR-8. Foi um informante no Chile que deu
informações para o sequestro e desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva.
Outro infiltrado ajudou os militares na
caçada ao ex-campeão do Exército Carlos Lamarca, morto no interior da Bahia.
Hoje, é um banqueiro de bicho no Norte do país, ligado ao Capitão Guimarães, do
Rio. O coronel Romeu também conta como cooptou o dirigente do PCdoB Manoel
Jover Telles para entregar a reunião do Comitê Central do PCdoB onde seria
feito um balanço da Guerrilha do Araguaia, na Lapa, em São Paulo, em 1976. O
episódio terminou com as mortes de três dirigentes do partido. O coronel
entregou a degravação da conversa dele com Jover Telles. Romeu era
subcomandante do DOI do Rio de Janeiro.
A Cia também se infiltrou no PCB, no começo
dos anos 1960. O “Agente Carlos” acompanhara Prestes em viagem para Moscou e
Pequim e passou informações detalhadas sobre as conversas de Prestes com Mao
Tse Dong e com Nikita Kruschev. Adalto Alves dos Santos pode estar ligado à
queda das famosas cadernetas de Luiz Carlos Prestes, logo depois do golpe de
1964. Foi preso pelo Cenimar (Marinha) durante a Operação Master e revelou para
quem trabalhava.
Um dos seus relatórios dizia que o partido
mantinha contato com cerca de 80 bispos católicos brasileiros, 10 dos quais
classificados como comunistas, entre os quais os cardeais Eugênio Salles e
Evaristo Arns, e 2 mil padres. Em 1973, o documento foi encaminhado pelo
Itamaraty ao Núncio Apostólico no Brasil. Responsável pelos contatos com a
Igreja, o advogado e jornalista potiguar Luís Ignácio Maranhão Filho, membro do
Comitê Central do PCB, foi sequestrado no Rio de Janeiro e assassinado pelo
DOI-Codi de São Paulo.
Áudios de reuniões do Comitê Central do PCB
em Moscou e Praga, que foram gravadas, mostram que a suspeita da existência de
um informante mobilizou a cúpula comunista com discussões envolvendo Prestes e
outros dirigentes do partido, sem que eles soubessem que o traidor estava
presente participava dos debates. Severino Teodoro de Mello fora enviado pelos
militares para Moscou a fim de continuar seu trabalho como espião.
Depoimentos inéditos do próprio Mello ao
repórter Marcelo Godoy, todos gravados, contam a razão do seu acordo com os
militares, após ser preso. Solto, era vigiado em seus encontros, causando
muitas quedas em SP, RJ, GO, BA e RS, entre 1974 a 1976. Melo continuou
trabalhando para o Cisa até 1995. O PCB já havia mudado de nome e sigla,
passando a se chamar Partido Popular Socialista (PPS), mas continuou espionado,
sem que o presidente Fernando Henrique Cardoso soubesse.
3 comentários:
Exercício de imaginação, pero no mucho :
• À época, escolher ser um satélite da União Soviética ou continuar como colônia americana ?
Hoje, e olhando o retrovisor :
• A então União Soviética virou pó
• Continuamos influenciados pelo modelo liberal-democrático americano
• Tornamo-nos colônia chinesa
Bom, não ?
😏😏😏
"Tornamo-nos colônia chinesa"... O comentarista é mesmo muito, muuuuito engraçado...
Jesus!
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