Valor Econômico
Contingente é maior nos grandes centros
Não é apenas o voto evangélico que cresce no
Brasil. De maneira menos estudada, também cresce paulatinamente o segmento da
população que se declara sem religião. E, assim como o evangélico, este eleitor
tem um padrão bastante definido, orientado em direção oposta ao
conservadorismo.
A tendência do crescimento do segmento sem religião vem se delineando há 40 anos. No censo de 1980, apenas 1,6% afirmavam não serem religiosos. Em 1991, já eram 4,7%. Em 2000 este percentual pulou para 7,4%. Em 2010 houve uma desaceleração e foram 8%. Os dados do censo de 2022 sobre esse tema ainda não estão disponíveis, mas levantamentos nacionais feitos pelo Datafolha e pela Quaest neste ano mostraram um percentual entre 10% e 14%. Mas esse contingente cresce nos grandes centros.
Em São Paulo, chega a 18%, de acordo com o
Datafolha, ou 19%, pela Quaest. Em Belo Horizonte, os percentuais são
respectivamente 12% e 15%. No Rio as pesquisas divergem, mas ainda assim o
percentual é bem acima da média brasileira. Segundo o Datafolha, 17%. Para a
Quaest, 28%, acima do percentual de evangélicos (24%). Há uma diferença sutil
no questionário que prejudica a comparação entre as pesquisas. A formulação não
é idêntica. No Datafolha a pergunta é aberta: “Qual é sua religião?” Já na
Quaest são duas perguntas. A primeira é “você tem alguma religião?” e, para os
que respondem sim, “qual é sua religião?”.
Onde não há nenhuma divergência é em relação
ao perfil desse eleitor. O eleitor sem religião é mais jovem, tem mais renda,
está fora do mercado de trabalho e estuda e é mais masculino do que feminino.
“A força desse fenômeno precisa ser estudada”, afirma Felipe Nunes, da Quaest,
que tem feito levantamentos nacionais específicos sobre esse tema.
“O percentual de jovens sem religião em São
Paulo e no Rio é tão forte quanto ou maior do que o de evangélicos”, diz
Luciana Chong, do Datafolha. No caso dessa última pesquisa, o dado é eloquente:
31% dos eleitores entre 16 e 24 anos se dizem sem religião em São Paulo, 13
pontos percentuais a mais do que a média paulistana. Nessa faixa de idade, 23%
declaram-se evangélicos.
A margem de erro sobe muito quando se faz um
cruzamento dentro do outro, mas a distribuição desse eleitorado dentro da
última pesquisa Datafolha guarda semelhança com o que foi registrado no censo
de 2010. A Quaest não apresenta os cruzamentos internos.
O percentual tanto do Datafolha quanto da
Quaest, quanto dos censos anteriores do IBGE não dizem respeito apenas a ateus
e agnósticos, cujo índice é residual. Levantamentos comparativos internacionais
indicam que o Brasil é um dos países com maior crença em Deus no mundo. Entram
nessa categoria também os entrevistados que afirmam não se identificar com
nenhuma religião específica.
O eleitor que se diz sem religião tem se posicionado à esquerda, no sentido diametralmente inverso dos evangélicos. No Rio de Janeiro, de acordo com a última pesquisa Quaest, Tarcísio Motta, do Psol, consegue 13% nesse segmento. Entre os evangélicos, obtém 2%. Em São Paulo, Guilherme Boulos (Psol) fica com 32% na faixa sem religião. Entre os evangélicos, 15%. Ambos são as opções mais à esquerda entre os candidatos mais conhecidos.
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