quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Um carimbo para o PCC - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao citar facção contra rival, governador admitiu que crime manda cada vez mais em estado que o elegeu

Ao festejar a reeleição em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes chamou Tarcísio de Freitas de “líder maior” e o lançou à Presidência em 2026. “Seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, proclamou.

O saldo das urnas reforçou Tarcísio como virtual candidato das direitas caso seu padrinho, Jair Bolsonaro, permaneça inelegível. Mas o governador manchou a vitória ao jogar sujo para ajudar Nunes no dia da eleição.

Sem apresentar provas, Tarcísio disse que o Primeiro Comando da Capital (PCC) teria orientado voto em Guilherme Boulos, adversário do prefeito. Depois seus aliados atribuíram a acusação a bilhetes apócrifos, vazados pela polícia que ele controla.

A conduta do governador foi tão ou mais grave que a de Pablo Marçal, que divulgou um laudo falsificado contra Boulos às vésperas do primeiro turno. Com as urnas abertas, Tarcísio usou o cargo para prejudicar um oponente e beneficiar seu candidato. Um caso típico de abuso de poder político.

Depois da vitória de Nunes, assessores do governador fizeram circular que ele estaria arrependido do episódio, que não teria passado de um “erro” ou “deslize”. Se os tribunais aceitarem essa conversa, será melhor revogar o Código Eleitoral.

No mesmo domingo em que Tarcísio tentou interferir na eleição, Bolsonaro voltou a atacar o TSE e insinuou que o presidente Lula teria simulado o acidente que o deixou com cinco pontos na cabeça. A sintonia entre as duas falas mostra que a operação para descolar Tarcísio da extrema direita é pura propaganda. Criador e criatura podem se diferenciar na forma, não no conteúdo.

Além de expor seus métodos, a declaração do governador serviu para realçar um novo fenômeno: a onipresença do PCC nas eleições de São Paulo. A facção nasceu nos presídios, dominou a venda de drogas e se infiltrou nos serviços públicos. Agora é parte do debate eleitoral, onde divide espaço com temas como a poda de árvores e a coleta de lixo.

Nunes e Marçal se acusaram mutuamente de ligação com o crime, recorrendo a apelidos como “tchutchuca do PCC”. Ao entrar na ciranda, Tarcísio naturalizou e pôs carimbo oficial na influência da facção na política. E admitiu que o crime manda cada vez mais no estado que o elegeu.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

"Um caso típico de abuso do poder político"! Muito bom!

ADEMAR AMANCIO disse...

Quanta sujança!