terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A esfinge argentina - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O capitão deveria ter arranjado uma irmã Igual à do presidente argentino

Você já reparou que agora Bolsonaro vive dando entrevistas? Ao contrário do tempo na Presidência, nenhuma pergunta fica sem resposta —mesmo que esta não faça sentido, seja uma deslavada mentira ou não corresponda ao que foi perguntado. O mais notável é o tratamento destinado aos jornalistas, quase civilizado. Não se pode dizer que o capitão virou uma flor de candura, mas as patadas ficaram no estábulo.

Em recente vídeo gravado para a reunião da internacional direitista em Buenos Aires, mais uma vez se revelou a sua metamorfose espiritual. Humilde, ele culpou a pandemia e a Guerra da Ucrânia (!) pelo fracasso de sua administração e elogiou Javier Milei, que hoje antagoniza com Lula.

Enfraquecido pela inelegibilidade e perto de ter o nome denunciado ao STF pela tentativa de golpe, Bolsonaro daria tudo para estar no lugar de Milei. Ter a caneta na mão (quando não tem nem o passaporte) e ser considerado "o presidente favorito" de Trump. Ostentar como símbolo de governo uma motosserra. Sobretudo gostaria de ter Lula como único adversário –com a claque antipetista a postos– e tirar do caminho o ministro Alexandre de Moraes.

Na abertura do G20, o aperto de mão entre Lula e Milei foi frio. Na foto ao lado do argentino —que o chamou de "corrupto" e "comunista"—, o brasileiro caprichou na careta. As redes adoraram o climão e viralizaram as imagens. Bobagem. O ultraliberal voltou para casa feliz da vida com a promessa do vizinho de esquerda de importar gás da jazida de Vaca Muerta.

Mais significativa que a cara fechada foi a mirada de Lula para Karina Milei, como se procurasse decifrar a esfinge. Karina é "El Jefe" (assim mesmo, no masculino) desde que o irmão mudou as regras sobre nepotismo e a nomeou para a Secretaria da Presidência. A onda favorável em torno do atual momento da economia argentina —que desconsidera a pobreza e a fome da população— é atribuída a ela. A primeira-irmã acumula poderes de fazer inveja aos três filhos de Bolsonaro e, de lambuja, à ex-primeira-dama Michelle.

Talvez tenha faltado ao capitão golpista uma irmã companheira e esperta como Karina.

 

2 comentários:

Mais um amador disse...

Falando em primeira-dama, parece que tem um tal de " Janjômetro " por aí.

Quanto ao ex-presidente: lugar de golpistas é na cadeia.

😏

Anônimo disse...

O problema é quando primeira-dama vira primeira-drama