O articulista ampara suas afirmações em três hipóteses: “A política alheia ao País”, “O que não se discute”, “Sabemos fazer, e não fazemos”. Reducionista, porque não escancara a ferida da política econômica voltada claramente para redistribuição da riqueza (dos outros), sem uma contrapartida do aumento da produção e da produtividade, legando a tarefa ao ativismo do MST e aos trabalhadores urbanos sindicalizados que, ao contrário, estão conquistando um dia mais de folga na semana: de 6x1 para 5x2. No modelo de trocas que aí está, o redistributivismo tende a beneficiar, sim, os burocratas hegemônicos no Poder: o Judiciário, recorrente, já voltou a reivindicar aumento de 28 % nos salários dos seus ministros e servidores; o Ministério da Fazenda – o órgão redistribuidor – propõe estender para os funcionários da Carf -Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, as vantagens pecuniárias da “periculosidade”. E, assim por diante. Absurdos compatíveis com os devaneios organizacionais da atual gestão de governo.
O problema levantado por Machado centra-se
no que ele chama de “Questão de ordem”, numa alusão à indisciplina a que chegou
a administração pública e a governabilidade. Conseguiu-se atingir o pico da
desordem plena. Uma disputa de Poder entre o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário. Deve-se muito a contaminação ideológica do “trabalhismo”, conduzida
pelas classes médias e intelectuais que, supostamente, deram origem ao PT.
Trata-se de um pretenso partido único, revolucionário, intuído por Lênin. Está
mais para uma agremiação mussolinista, no caso da Itália, criado por um
ex-socialista que o desenvolveu a partir de uma ideologia nacionalista. Não
parece ser mesmo também o caso da gestão política em curso. Confuso: busca a
internacionalização, sem apegos à integração continental. Por aqui, conseguiu
desestruturar o Estado Brasileiro. Na verdade, desde a Proclamação da
República, o Brasil não encontrou seu caminho nas ideologias, nem conseguiu
organizar-se devidamente como Estado, por causa da herança patrimonialista, do
filhotismo, da troca de favores e das fragilidades impostas à burocracia de
Estado como estratégias de governança.
A primeira hipótese de Machado é
que “A política alheia ao País”. Ninguém governa. Os
cidadãos estão abandonados. A coreografia da desestruturação do Estado
somada às barganhas para construção da hegemonia política terminou
transferindo para a iniciativa privada uma elite tecno burocrática, com
formação superior apurada em gestão de política públicas. Saindo das
mãos de uma elite rural, caímos nas mãos de um grupo de intelectuais
acadêmicos (doutores em Sociologia, Administração e
Economia: Delfim, Símonsen, Celso Furtado, FHC, pessoal do
IPEA, da FGV e outros), para chegar ao controle
dos sindicatos, cujos afiliados são pouco dado à leituras, sem
se dar conta de que foram eles que sustentaram o regime de Benito
Mussolini. O Governo abandona as tradições da integração
continental para tomar a direção de socialismos em crise –
chamados de “nova esquerda” -, e alia-se a líderes que só conseguem se manter
no Poder pelo uso explícito da força, e que nada tem à ver com o pensamento e
os problemas do nosso Continente. A política externa brasileira
sempre se pautou pela autonomia e o não alinhamento. Agora mistura
tudo. A mudança de postura se expressa pelo flerte, cada vez
mais insistente e inconsistente historicamente,
com lideranças autoritárias que se opõe à cultura do
Ocidente. Amadurecida por anos de mandatos repetidos, pode, na próxima
eleição, criar maior confusão, no caso da eleição de um opositor ao atual grupo
no Poder.
O que não se discute (segunda hipótese)
…. é a origem de tudo isso na contemporaneidade. Os nomes são conhecidos.
Mas só aflora o dos agentes: Lula, Fidel e Zé Dirceu (militei com ele no
movimento estudantil: um pequeno burguês, sempre conspirando, nas sombras (Caso
UNE), estimulado por partidos ideológicos, e desestruturados pela militarização
do Poder ao longo de vinte anos. Aquele trio, agregado de Hugo
Chavez, instituiu a polarização, (esquerda x direita) contrariando a
democracia pluripartidária, oferecendo no cardápio apenas duas plataformas de
convergência política para os que tinham outras opções. Radicalizaram,
estigmatizando-os de “extrema-direita”, em atitudes pouco convencionais não
necessariamente revolucionárias. Vem aparelhando gradualmente o Estado à busca
do Poder hegemônico. Terminam sempre numa Comissão Parlamentar de Inquérito
que, por sua vez, tem concluído em pizzas e, ambiguamente, pela culpabilidade
dos agentes, porém todo mundo solto e liberados para retornar ao Poder.
Sabemos fazer, e não fazemos. Uma
hipótese ousada. Acho que é o contrário; não sabemos fazer. Construímos nosso
caminho, vivenciando por décadas “conflitos inúteis”, “devaneios políticos” e não temos
programas consistentes de absorção de novas tecnologias. Os
projetos de governo estão “presos à poeira do presente”. “Sabemos fazer”. Acho
que não. Nossa massa crítica é limitada, a ciência um
devaneio e fica-se sem espaço até mesmo em um
Parlamento Digital, popular, como ocorreu no norte da África. Em
nome das “fake news” encerram-se atividades blogueiras dos
parlamentos
digitais, cassam-se importantes debatedores, enterram
abordagens criativas e teses embrionárias. A intelectualidade
corporativa, introduz a desordem na
governabilidade, tornando cada vez mais difícil a escalada
para chegar a qualquer Prêmio Nobel.
*Jornalista, professor

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