terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Sistema consegue moderar candidatos? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Representante da direita radical vence com folga segundo turno da eleição presidencial no Chile

José Antonio Kast, porém, não deu sinais de que atuará contra o sistema como Trump ou Bolsonaro

Sem surpresa, José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile. E foi de lavada, por 58% contra 42%. A dúvida agora é como Kast governará.

O primeiro ponto a observar é que ele vem de uma cepa da direita muito mais radical do que a de Sebastián Piñera, que governou o Chile por duas vezes após a redemocratização do país, em 1990. Kast é abertamente pinochetista, rompeu com a direita tradicional para fundar um partido que fosse mais veemente na defesa de pautas conservadoras e é ultracatólico, daqueles de se opor a todos os métodos de controle de natalidade. Tem nove filhos.

Apesar do currículo, seria precipitado cravar que o futuro presidente fará um governo disruptivo que ameace a democracia, como bem mostrou primorosa análise de Sylvia Colombo.

No Chile pós-Pinochet, a moderação tem, até aqui, prevalecido. Um bom exemplo é o atual presidente Gabriel Boric, que foi eleito por uma coalizão de esquerda que parecia bem mais categórica do que foi seu governo. O próprio Kast emitiu na campanha sinais de que não pretende esticar a corda. O mais eloquente deles é que estrategicamente se calou em relação a pautas que lhe são caras, como o ensino religioso obrigatório ou a proibição total do aborto. Não o fez porque tenha deixado de apoiar essas bandeiras, mas porque entendeu que insistir nelas não o levaria ao poder.

A trajetória de Kast aqui lembra a de Lula, que só conquistou a Presidência na quarta tentativa (terceira no caso do chileno). As derrotas serviram para que aprendessem a moderar seu discurso e, por conseguinte, os compromissos assumidos. Devemos temer mais candidatos que aparecem do nada, como Trump ou Milei, do que aqueles que já vêm marinados por muitas eleições. Bolsonaro também é cria do sistema, mas só havia atuado como deputado, eleito por uma regra de voto proporcional que premia o discurso radical, ao contrário das votações majoritárias.

As primeiras ações de Kast na Presidência mostrarão se, no Chile, o sistema ainda é capaz de promover a moderação.

 

 

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