quarta-feira, 4 de março de 2009

Freire: Não resolveremos a crise voltando ao passado

Valéria de Oliveira e Diógenes Botelho
DEU NO PORTAL DO PPS
Foto: Tuca Pinheiro

"Nós não vamos retroceder e nem a história vai se repetir", disse o presidente do PPS, Roberto Freire, ao abrir o seminário A Crise e o Desemprego promovido pela Liderança do partido na Câmara dos Deputados. Os problemas atuais do mundo do trabalho, afirmou, não podem ser equacionados a partir de velhas visões remanescentes da guerra fria, antes da queda do muro de Berlim e do fim do socialismo. "Nessa crise, temos de pensar em novas estratégias, discutir o que é ser de esquerda - na euforia econômica e na depressão"

.Freire criticou ainda os setores de esquerda que depositam no estatismo a esperança de resolver o problema da crise e do desemprego. "O modelo de estatização como estratégia socialista foi derrotado", lembrou, observando que o mundo atravessa um período de superação e não de retrocesso a modelos.

"Tem gente que crê que a alternativa para a crise que estamos vivendo é o comunismo. Isso é o passado, não o futuro. Retomar o que éramos é uma visão a-histórica. Não se pode discutir o mundo do trabalho com 'by passe' para o passado", advertiu o presidente do PPS.

Falando especificamente do PT, Freire disse que há segmentos do partido com o discurso ultrapassado, que olham pelo retrovisor e defendem o processo de estatização como solução para a crise. E há outro, representado pelo presidente Lula e seu grupo, que superou essa etapa, mas não tem a mínima visão de futuro, já que se limitou a "surfar" na euforia econômica. Para Freire, essa esquerda não se preocupou em encontrar um novo rumo, uma evolução para o modelo. "O PT na oposição era a esquerda mais radical e no govenro é a mais submissa", resumiu.

Nacionalismo

Para Freire, com o avanço da globalização, não se pode enfrentar a crise pensando, por exemplo, que serão encontradas alternativas nacionais para o problema. Nem nacionalismo."É preciso toda uma coordenação internacional. O próprio setor financeiro já admitiu que não se resolve a crise com ações nacionais". Entretanto, observou, parte da esquerda se julga nessa condição justamente porque é nacionalista, "quando até Mussolini o foi".

O momento, ressalta o presidente do PPS, é de extremo desafio para o ambiente político num mundo globalizado. Para ele, a política não acompanhou esse processo de globalização e agora se vê sem ter como oferecer soluções. O ex-senador lembra que o lado vencedor da guerra fria está enfrentando uma crise agora. Não podemos "olhar no retrovisor e enfrentar o desemprego com o velho sindicalismo". É preciso abrir "a picada", ou seja, encontrar novos caminhos. O PPS, garantiu, "apesar de chiquitito, continua cumpridor" e reflete sobre como resolver o problema do mundo do trabalho hoje.

A esquerda deve achar sua proposta para o mundo atual. "Há setores da esquerda achando que a solução está no estatismo. Os que estão dominando querem esse modelo de intervenção estatal para eles", salientou.

Nos últimos cinco anos, afirmou Freire, era raro encontrar um país que tivesse passado por dificuldades."Tal como a crise, o processo de crescimento econômico foi global". Para ilustrar a afirmação, ele citou o exemplo da Argentina. "Lá também tinha um "nunca antes na Argentina" por causa da onda de bonança".

FGTS para compra de carro é crime

Segundo Freire, o governo federal está cometendo um crime contra o Brasil ao utilizar recursos do FGTS para financiar a compra de veículos. Ele acusa o Planalto de, na crise, "ser mero agente de venda da indústria automobilística". Esse tipo de ação, diz o presidente do PPS, vai contra os interesses do país e em nada ameniza os efeitos da crise econômica.

Além disso, alerta Freire, as fontes do FAT estão secando e também serão atingidas pela crise. "Esse dinheiro é para ser utilizado em investimentos que garantam os interesses dos trabalhadores, que gerem emprego", defende.

O presidente do PPS diz que as ações pontuais e equivocadas do governo para enfrentar a crise são fruto da falta de preparo para uma situação econômica adversa. Como medidas condenáveis ele cita, por exemplo, a extensão do bolsa-família para jovens de 16 e 17 anos. "O governo ampliou o bolsa-família e fechou o programa Primeiro Emprego. Deixou de lado a opção pelo trabalho e optou pelo assistencialismo", critica.

Falta de aviso não foi. Freire lembra que o PPS, ainda em 2004, quando fazia parte da base do governo, produziu o documento "Sem mundaça não há esperança", que alertava sobre o fim de um ciclo econômico e para a necessidade de mudanças estruturais na economia do país. "Era uma época de auge do otimismo. Mas nós já falavamos que era um momento de estrangulamento do modelo"

. O documento foi enviado ao governo Lula, como colaboração do partido. Porém, o alerta foi ignorado e deu no que deu.

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