quinta-feira, 14 de maio de 2009

62º FESTIVAL DE CANNES

Silvana Arantes
Enviada Especial a Cannes
DEU NA FOLHA DE S. PAULO / Ilustrada

Animação desarma crítica em Cannes

Primeiro longa em 3D a abrir o festival, "Up" tem recepção que contrasta com a "faca entre os dentes" dos jornalistas em 2008
John Lasseter, dono da Pixar, buscou seguir receita de Walt Disney de "uma lágrima para cada risada" em filme sobre casa levada por balões
O longa de animação "Up - Altas Aventuras", que abriu ontem o 62º Festival de Cannes, segue uma receita cinematográfica de Walt Disney.

"Ele dizia que, para cada risada, deveria haver uma lágrima", afirmou ontem em Cannes John Lasseter, o homem que hoje comanda a área de animação da Disney, além de ter sua empresa, a Pixar, com Steve Jobs (Apple) como sócio.Em "Up", o potencial de risadas e lágrimas deriva da história do velhinho Carl que, viúvo, decide empreender a aventura com que ele e a mulher sonharam desde a infância -explorar a natureza na América do Sul.

Acuado pela explosão imobiliária em seu bairro e ameaçado de ser posto num asilo, Carl ata à sua casa balões suficientes para fazê-la voar. Sem saber, ele decola levando a reboque o garoto Russel, escoteiro cuja "promoção" dependia da tarefa de prestar auxílio a idosos. É o início de uma bela amizade.Lasseter lembrou ontem um diálogo que teve com Jobs, de quem ouviu: "Novas tecnologias duram quatro, cinco anos. Se você fizer bem seu trabalho, ele pode durar para sempre".

Aposta no 3D

Como o futuro do cinema é a questão subjacente a este 62º Festival de Cannes, a escolha de "Up - Altas Aventuras" para inaugurá-lo não é casual.

Pela primeira vez, este lugar de destaque foi dado a um filme em 3D, cuja projeção exige o uso de óculos especiais pelo espectador. "Essa vai ser a foto! Todas aquelas pessoas de smoking e longo usando os óculos. Mal posso esperar", disse Lasseter, antes da sessão de gala do filme, marcada para as 19h (14h, no horário de Brasília).

Pela manhã, quando "Up" foi exibido para a imprensa, o diretor-geral do Festival de Cannes, Thierry Frémaux, não esperou. "Ponham os óculos, por favor.

Queremos fazer essa foto", disse aos jornalistas, minutos antes do início da sessão. "Agora finjam que vocês estão vendo o filme", brincou.

No ano passado, "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, foi o filme de abertura do festival. Parte da crítica reagiu com tamanha agressividade ao longa que o jornal "Libération" analisou o fato: "Os jornalistas chegam a Cannes com a faca entre os dentes".

Ontem, "Up" parece ter conseguido desarmar até os espíritos mais beligerantes. Terá sido uma vitória de Frémaux sobre a predisposição da crítica. Mais ainda, uma vitória de Lasseter, executivo em teoria distante do cinema de autor que Cannes tanto preza, mas cuja Pixar faz o que há de mais inteligente e autoral no mundo da animação.

O sucessor de Disney vê o cinema como modo de emocionar o público. "Sabíamos que éramos capazes de fazer um filme bonito e engraçado. Mas ele teria de ser emocionante. Cada coisa neste filme foi feita pensando no público", disse.

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