DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
A metralhadora giratória do presidente Lula está longe da aposentadoria. E continua com os mesmos defeitos de fabricação: gatilho frouxo e alça de mira desregulada.
Na quinta-feira, a máquina de falar não resistiu à tentação para gozar adversários reais ou imaginários e disparou uma salva contra o governo americano, que estaria por trás das pressões contra o WikiLeaks. Ao mesmo tempo, cobrou mais solidariedade ao seu líder, o ciberativista Julian Assange, preso na Inglaterra desde a terça-feira. Parecia que Lula pretendia enquadrar a imprensa, atrapalhou-se, disse o contrário e depois caiu em cima dos diplomatas que não têm o que fazer e ficam escrevendo “aquelas bobagens”.
Certamente foi informado de que a nova dose de vazamentos de documentos secretos do Departamento de Estado referia-se ao Brasil, mais precisamente à presidente eleita, Dilma Rousseff, e ao seu passado como guerrilheira durante a ditadura. O informe da embaixada americana em Brasília é de 2005, quando a então ministra de Minas e Energia foi alçada à chefia da Casa Civil e repetia suposições conhecidas, jamais confirmadas, sobre a participação dela em assalto a bancos e ao famoso roubo do cofre de Adhemar de Barros.
A presidente eleita recebeu a notícia com tranquilidade, mas a nova exibição retórica de um presidente que não consegue reprimir os seus impulsos nem respeitar os limites do cargo intranquiliza aqueles que imaginam que no dia 1º de janeiro a chefia da nação será efetivamente exercida por Dilma Rousseff.
Julian Assange, o criador do WikiLeaks, tem o mesmo discurso libertário dos velhos anarquistas, é um fanático militante da transparência política, mas muitos de seus simpatizantes são simplesmente hackers, piratas. Especialmente aqueles que na quarta-feira resolveram vingar-se das empresas que retiraram o apoio ao WikiLeaks (caso dos cartões de crédito Visa e Mastercard) e paralisaram durante horas os seus sistemas, impedindo o acesso de milhares de inocentes usuários.
Compreende-se a fascinação do quase ex-presidente da República pela figura de Assange. Trata-se de um novo tipo de herói híbrido, fenômeno do nosso tempo, defensor do interesse público e, simultaneamente, transgressor contumaz de normas de governo, crítico intransigente dos adversários e absolutamente acrítico com relação ao seu próprio desempenho. Suas denúncias sobre os massacres de civis no Quênia ou o comportamento das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão denotam convicções humanitárias, mas o barulho que Assange está armando em torno de informes rotineiros, não verificados, denota uma total ignorância sobre a natureza do trabalho diplomático. Ou uma vocação narcisista para fazer barulho e chamar a atenção.
Compreende-se que veículos jornalísticos globais tenham se associado ao Wikileaks para divulgar os seus vazamentos. Afinal, Assange não investiga, não verifica, apenas chuta. Põe para fora o que lhe chega às mãos. Jornais e revistas não poderiam fazê-lo sob pena de comprometer sua credibilidade.
Mas um estadista, ainda que na véspera de deixar o cargo, tem obrigação de respeitar as regras do jogo e a liturgia do cargo. Fácil imaginar o mal estar que causariam vazamentos de informes da embaixada brasileira em Washington sobre as fofocas que correm a respeito da queridinha dos reacionários, Sarah Palin. São engraçadas as comparações escritas pelos diplomatas americanos entre Putin-Batman e Medvedev-Robin, mas é perigoso alimentar o circo midiático com factoides deste quilate.
Lula certamente diverte-se com estes vazamentos, mas deveria ficar atento a um eventual bumerangue que neste momento pode vir em sua direção.
» Alberto Dines é jornalista
A metralhadora giratória do presidente Lula está longe da aposentadoria. E continua com os mesmos defeitos de fabricação: gatilho frouxo e alça de mira desregulada.
Na quinta-feira, a máquina de falar não resistiu à tentação para gozar adversários reais ou imaginários e disparou uma salva contra o governo americano, que estaria por trás das pressões contra o WikiLeaks. Ao mesmo tempo, cobrou mais solidariedade ao seu líder, o ciberativista Julian Assange, preso na Inglaterra desde a terça-feira. Parecia que Lula pretendia enquadrar a imprensa, atrapalhou-se, disse o contrário e depois caiu em cima dos diplomatas que não têm o que fazer e ficam escrevendo “aquelas bobagens”.
Certamente foi informado de que a nova dose de vazamentos de documentos secretos do Departamento de Estado referia-se ao Brasil, mais precisamente à presidente eleita, Dilma Rousseff, e ao seu passado como guerrilheira durante a ditadura. O informe da embaixada americana em Brasília é de 2005, quando a então ministra de Minas e Energia foi alçada à chefia da Casa Civil e repetia suposições conhecidas, jamais confirmadas, sobre a participação dela em assalto a bancos e ao famoso roubo do cofre de Adhemar de Barros.
A presidente eleita recebeu a notícia com tranquilidade, mas a nova exibição retórica de um presidente que não consegue reprimir os seus impulsos nem respeitar os limites do cargo intranquiliza aqueles que imaginam que no dia 1º de janeiro a chefia da nação será efetivamente exercida por Dilma Rousseff.
Julian Assange, o criador do WikiLeaks, tem o mesmo discurso libertário dos velhos anarquistas, é um fanático militante da transparência política, mas muitos de seus simpatizantes são simplesmente hackers, piratas. Especialmente aqueles que na quarta-feira resolveram vingar-se das empresas que retiraram o apoio ao WikiLeaks (caso dos cartões de crédito Visa e Mastercard) e paralisaram durante horas os seus sistemas, impedindo o acesso de milhares de inocentes usuários.
Compreende-se a fascinação do quase ex-presidente da República pela figura de Assange. Trata-se de um novo tipo de herói híbrido, fenômeno do nosso tempo, defensor do interesse público e, simultaneamente, transgressor contumaz de normas de governo, crítico intransigente dos adversários e absolutamente acrítico com relação ao seu próprio desempenho. Suas denúncias sobre os massacres de civis no Quênia ou o comportamento das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão denotam convicções humanitárias, mas o barulho que Assange está armando em torno de informes rotineiros, não verificados, denota uma total ignorância sobre a natureza do trabalho diplomático. Ou uma vocação narcisista para fazer barulho e chamar a atenção.
Compreende-se que veículos jornalísticos globais tenham se associado ao Wikileaks para divulgar os seus vazamentos. Afinal, Assange não investiga, não verifica, apenas chuta. Põe para fora o que lhe chega às mãos. Jornais e revistas não poderiam fazê-lo sob pena de comprometer sua credibilidade.
Mas um estadista, ainda que na véspera de deixar o cargo, tem obrigação de respeitar as regras do jogo e a liturgia do cargo. Fácil imaginar o mal estar que causariam vazamentos de informes da embaixada brasileira em Washington sobre as fofocas que correm a respeito da queridinha dos reacionários, Sarah Palin. São engraçadas as comparações escritas pelos diplomatas americanos entre Putin-Batman e Medvedev-Robin, mas é perigoso alimentar o circo midiático com factoides deste quilate.
Lula certamente diverte-se com estes vazamentos, mas deveria ficar atento a um eventual bumerangue que neste momento pode vir em sua direção.
» Alberto Dines é jornalista
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